Nascido em Caratinga, Minas Gerais, no dia 24 de outubro de 1932, Ziraldo Alves Pinto viveu em sua cidade natal durante toda a sua infância.
Seu nome tem origem na junção de do nome de sua mãe com o nome de seu pai: Zizinha + Geraldo = Ziraldo.
Ziraldo passou toda a infância em Caratinga. Era irmão do também desenhista, cartunista, jornalista e escritor Zélio Alves Pinto e de Ziralzi Alves Pinto. Por volta dos 17 anos, o autor foi para o Rio de Janeiro onde estudou dois anos e voltou a Caratinga e concluíu o ensino médio. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de MG em 1957. Seu talento no desenho já se manifestava desde essa época, tendo publicado um desenho no jornal Folha de Minas com apenas 6 anos de idade.
Começou a trabalhar no jornal Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), em 1954, com uma coluna dedicada ao humor. Ganhou notoriedade nacional ao se estabelecer na revista O Cruzeiro em 1957 e, depois, no Jornal do Brasil, em 1963.
Em 1960 lançou a 1ª revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor, Turma do Pererê, que também foi a 1ª história em quadrinhos a cores totalmente produzida no Brasil. Embora tenha alcançado uma das maiores tiragens da época, Turma do Pererê foi cancelada em 1964, logo após o início do regime militar. Nos anos 70, a Editora Abril relançou a revista, porém sem o sucesso inicial.
Foi fundador e diretor do periódico O Pasquim. Em 1980 lançou o livro “O Menino Maluquinho”, seu maior sucesso editorial, o qual foi mais tarde adaptado na televisão e no cinema. Para televisão, foi adaptado em 2006 pela TV Brasil, chamada Um Menino muito Maluquinho sob a direção de Anna Muylaert e Cao Hamburger. No cinema, foi adaptado três vezes, a primeira em Menino Maluquinho – O Filme em 1995 e uma sequência em 1998 dirigida por Fernando Meirelles, Menino Maluquinho 2 – A Aventura. A adaptação mais recente da série é Uma Professora Muito Maluquinha de 2010, estrelado por Paolla Oliveira.
Em 1989, criou a Família Folhas para uma campanha de reciclagem da Prefei-tura de Curitiba. Ele reformulou a família e criou novos personagens em 2022.
Em 1999 lançou a revista “Bundas”, uma publicação de humor sobre o cotidiano que faz uma brincadeira com a revista Caras. Ziraldo foi também o fundador da revista “A Palavra” em 1999.
Ilustrações de Ziraldo já figuraram em publicações internacionais como “Private Eye” da Inglaterra, “Plexus” da França e “Mad”, dos Estados Unidos.
A partir do ano de 2000, participou da “Oficina do Texto”, maior iniciativa de co-autoria de livros do Mundo, criada por Samuel Ferrari Lago, então diretor do Portal Educacional, na qual ilustrou histórias que ganharam textos de alunos de escolas do Brasil todo, totalizando aproximadamente 1 milhão de diferentes obras editadas em coautoria com igual número de crianças.
Ziraldo foi homenageado por escolas de samba afirmando que é a maior homenagem que um brasileiro pode receber. Em São Paulo, foi a Nenê de Vila Matilde em 2003 e na Sapucaí, Ziraldo foi enredo da Tradição em 2012.
Vida Pessoal
O cartunista foi casado com Vilma Gontijo Alves Pinto de 1958 até a morte dela em 2000, quando aos 66 anos ela sofreu um infarto enquanto dormia. Ziraldo casou-se novamente, dessa vez com Márcia Martins da Silva.
Em 2013, Ziraldo concedeu entrevista para o Museu da Pessoa, na qual comentou sobre a sua vida, principalmente sobre a sua infância. Descobriu que tinha tino para o humor ainda muito novo em meio a uma epidemia de esquistossomose, em Caratinga, onde nasceu.
Segundo vizinhos, Ziraldo tinha o hábito de, de vez em quando, descer para o térreo do seu prédio durante a madrugada assobiando, o que eles entendiam como um sinal de que ele iria criar algo novo.
Posicionamento Político
Ziraldo foi membro do Partido Comu-nista Brasileiro (PCB) juntamente com amigos como o arquiteto Oscar Niemeyer. Após o fim da Ditadura, em 1989, o grupo liderado por Roberto Freire no PCB transferiu a estrutura partidária para uma nova legenda, o Partido Popular Socialista (PPS), como forma de enfrentar o desgaste com a experiência socialista soviética e a queda do muro de Berlim.
Em 2005, o cartunista filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), para o qual desenhou o logo partidário.
Em 5 de abril de 2008, Ziraldo – junto a vinte jornalistas que foram perseguidos durante a ditadura militar – teve seu processo de anistia aprovado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e foi indenizado em mais de 1 milhão de reais, além de receber uma pensão vitalícia de cerca de 4,3 mil reais.
O Pasquim, A Subversão do Humor
Em 1969, surgiu no Rio de Janeiro “O Pasquim”, desempenhando um papel importante na oposição ao regime militar, e se tornou uma espécie de porta-voz da indignação da população brasileira). Tablóide que, com sua irreverência, humor e anarquia, daria uma nova roupagem ao jornalismo brasileiro e uma forma mais coloquial à publicidade. Juntamente com alguns nomes de destaque, como os cartunistas Jaguar, Millôr Fernandes e Henfil, além do jornalista Tarso de Castro. A TV Câmara conta no documentário “O Pasquim – a Subversão do Humor”, através dos principais personagens desta história, como ele invadiu o Brasil, enfrentando a censura e a cadeia com o riso aberto, como se fosse mais uma das farras da turma de Ipanema. Jaguar, Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, Marta Alencar, Miguel Paiva, Claudius, Sérgio Augusto, Reinaldo, Hubert lembram como se escreveu esta página da nossa história e Angeli, Chico Caruso, Washington Olivetto e Zélio como ela foi determinante para as páginas seguintes.
Ninguém ficou rico com a publicação, embora ela tenha vendido nos seus melhores tempos, entre 1969 e 1973, até 250 mil exemplares. Um volume acima do razoável, se lembrarmos que os jornais de tiragem nacional rodam hoje, mais de 30 anos depois, com toda a informatização, cerca de 300 mil exemplares.A verdade é que o comportamento da chamada Patota do Pasquim era tão anárquico quanto o conteúdo do jornal. E o que ganharam gastaram entre prisão, brigas, festas e altas dosagens etílicas. Bem que os militares e a elite brasileira tentaram sufocá-lo diversas vezes e de formas variadas mas, quando conseguiram, ele já havia disseminado uma nova forma de comportamento nos meios de comunicação. Como diz Jaguar, a imprensa tirou o paletó e a gravata, ou, como diz Olivetto, passamos a escrever e nos comunicar com língua de gente, do povo.
Saúde e Morte
Em 2013, durante uma viagem a Alemanha, Ziraldo teve um infarto leve, necessitando fazer um cateterismo. Em 2018, sofreu um AVC e ficou internado em estado grave. Nos quatro anos seguintes, sofreu outros dois AVCs, o que o fez ficar com a saúde debilitada. Nos últimos meses, Ziraldo passava a maior parte do tempo acamado e se alimentando por sonda.
Na tarde do dia 6 de abril de 2024, em torno das 15h, aos 91 anos, Ziraldo morreu em sua casa. Mais tarde uma de suas filhas revelou que a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. O corpo de Ziraldo foi velado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e sepultado no Cemitério de São João Batista.
Com sua partida sua herança para o jornalismo brasileiro é preciosa, com seus traços que retratavam a dura realidade brasileira. Várias instituições prestaram homenagens ao cartunista, como os clubes de futebol Flamengo (RJ), Atlético Mineiro (MG) e Corinthians (SP).
Um dos filhos de Ziraldo e compositor Antônio Pinto adiantou que existe o objetivo de criar no Rio de Janeiro um centro cultural em homenagem a Ziraldo.
“Meu pai foi uma figura enorme e a gente tem na nossa casa, onde era o estúdio dele, um material vastíssimo, mais de mil desenhos. A gente quer, de alguma maneira, colocar isso para as pessoas verem”.
Outra forma de legado é um desejo antigo da filha Fabrizia Pinto e que mudaria a paisagem do Rio de Janeiro. Uma estátua na orla da praia de Copacabana, onde já há uma homenagem a outro mineiro, o poeta Carlos Drummond de Andrade.
“Eu gostaria muito que ele ficasse sentadinho do lado dele, Drummond e meu pai, porque eles se amavam muito, eles eram muito amigos”, pediu emocionada.
“Nós é que pedimos. Então vamos fazer todas as homenagens que ele merece e não são poucas”, respondeu o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Prêmios
• 1969: Nobel Internacional do Humor e Prêmio Merghantealleru;
• 1980: Prêmio Jabuti de Literatura;
• 2004: Premio Andersen – Il mondo dell’infanzia;
• 2005: Ordem do Mérito Cultural;
• 2008: Prêmio Ibero-Americano de Humor Gráfico;
• 2012: Prêmio Jabuti de Literatura.
Quadrinhos
• O Pererê (1959 – 1976);
• Jeremias, O Bom (1965-1969);
• The Supermãe (1968-1984);
• O Menino Maluquinho (1988-2007).
Livros
• Flicts (1969);
• O Planeta Lilás (1979);
• O Menino Maluquinho series: O Menino Maluquinho (1980), Uma Menina Chamada Julieta (2009), Mônica e o Menino Maluquinho na Montanha Mágica (2018) & O Bebê que Sabia Brincar (2020);
• O Bichinho da Maçã / Bichim series: O Bichinho da Maçã (1982), Como ir ao Mundo da Lua (1995), Cada um Mora Onde Pode (2008), As Anedotinhas do Bichinho da Maçã (2011), As Flores da Primavera (2020), Um Amor de Família (2020), O Bichinho que Queria Crescer (2020) & As Cores e os Dias da Semana (2020);
• A Fábula das Três Cores (1985);
• O Pequeno Planeta Perdido (1985);
• O Menino Marrom (1986);
• Corpim series: Pelegrino & Petrônio, Os Dez Amigos, Um Sorriso Chamado Luiz, Rolim, Dodó, O Joelho Juvenal & O Calcanhar de Aquiles;
• O Menino Quadradinho (1989);
• Professora Maluquinha series: Uma Professora Muito Maluquinha (1995) & As Aventuras da Professora Maluquinha em Quadrinhos (2010);
• Vito Grandam: Uma História de Vôos (1995);
• O Menino do Rio Doce (1996);
• Tia Nota Dez (1996);
• Menina Nina: Duas Razões Para Não Chorar (2002);
• O Menino e seu Amigo (2003);
• Os Meninos Morenos (2004);
• O Aspite (2005);
• Os Meninos dos Planetas series: O Menino da Lua, O Namorado da Fada ou Menino de Urano, O Menino da Terra, O Capetinha do Espaço: ou o Menino de Mercúrio, Os Meninos de Marte, O Menino Que Veio de Vênus, Nino, o Menino de Saturno, O Menino D´Água e o Planeta Netuno, Ju, o Menino de Júpiter: O Maior Menino do Mundo & As Cores do Escuro e os Meninos de Plutão;
• Menina das Estrelas (2007);
• A Bela Borboleta (2009);
• Meninas (2016).
Ilustrações
• Chapeuzinho Amarelo (1970);
• Pra Boi Dormir (1992);
• Noções de Coisas (1995).
Personagens criados por Ziraldo
As histórias de Ziraldo acontecem em uma variedade de contextos que vão desde a política ao universo infantil.
Por conta disso, há uma grande diversidade de figuras representadas na obra do artista, que apresenta um trabalho extenso.
Conheça um pouco mais sobre os principais personagens de Ziraldo.
• Menino Maluquinho: Da obra “O Menino Maluquinho”, o personagem é um menino de 10 anos muito alegre, travesso e criativo, conhecido por suas travessuras e considerado um criador de problemas. Sua marca registrada é a panela que usa na cabeça como se fosse um chapéu. Como é o personagem mais famoso o Menino Maluquinho deu origem a um filme.
• Julieta: É uma menina decidida, espevitada e esperta, que namora o Menino Maluquinho. Conhecida por ser fofoqueira, costuma liderar todas as brincadeiras das quais participa. A marca registrada da menina é sua blusa vermelha com o desenho de um raio. A personagem integra o livro “O menino Maluquinho”, e também tem a sua própria obra: “As aventuras de Julieta”.
• Supermãe: Da obra “The Supermãe”, a personagem surgiu no universo das histórias em quadrinhos e retrata o comportamento das mães zelosas, exageradas e, por vezes, melodramáticas. O termo “Supermãe” é como o autor se refere à personagem Dona Clotildes, cuja relação com o filho Carlinhos é contada na obra. Dona Clotildes foi inspirada na mãe do autor, Dona Zizinha.
• Juvenal: Da obra “O joelho Juvenal”, o personagem é o joelho de uma criança muito levada. Apesar de estar sempre machucado, ralado e esfolado, Juvenal era um joelho muito feliz.
• Bichinho da maçã: É o narrador de uma coletânea de livros infantis de mesmo nome, que costuma contar e inventar histórias e anedotas.
• Zélen: Conhecido como “Menino da lua” (nome da obra onde é o personagem principal), é o menorzinho das crianças da história e tem como característica o rosto cheio de furinhos. Apesar de ser uma criança encantadora, o personagem era bastante sozinho e todas as suas brincadeiras eram solitárias. Com o desenrolar da história, conseguiu fazer parte de uma turma de amigos cujos nomes eram inspirados nos planetas. É o caso de Vevé, personagem com um tapa-sexo em forma de estrela), inspirado no planeta Vênus, e do menino verde Martin, inspirado no planeta Marte.
• Professora Maluquinha: Professora que apresenta novas formas de transmitir conhecimentos aos alunos, explorando o lúdico e a criatividade. A professora Maluquinha teve uma adaptação para o cinema.