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Vinícius Júnior, o atacante do Real Madrid que tem sofrido ataques racistas por parte de torcedores nas arquibancadas dos estádios espanhóis nas últimas duas temporadas, foi às redes sociais após o último ataque contra ele no domingo (21), quando foi chamado de macaco pelos torcedores do Valência. Desta vez, ele mirou não apenas em seus agressores, mas também no próprio campeonato e seus dirigentes.

“Não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira”, escreveu Vinícius Júnior em postagem em suas contas no Twitter e no Instagram. “O racismo é normal na La Liga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam.” A Espanha, disse ele, está se tornando conhecida no Brasil “como um país de racistas”.

No domingo, Vinícius Júnior foi recebido por torcedores que entoavam a palavra “mono” (macaco em espanhol) antes mesmo de descer do ônibus do Real Madrid em frente ao estádio Mestalla, em Valência. A partida foi interrompida brevemente aos 71 minutos quando ele reclamou sobre a agressão ao árbitro, e uma declaração antirracismo – parte de um protocolo da liga para tais incidentes – foi lida para a multidão nos alto-falantes do estádio.

Abusos raciais nas arquibancadas dos estádios de futebol espanhóis não são incomuns ou novos, mas passaram a ter um foco particular: Vinícius Júnior, que emergiu como um dos jogadores de destaque da liga desde as saídas de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

Em um comunicado anunciando uma investigação sobre os eventos de domingo em Valência, a La Liga reconheceu ter relatado nove incidentes de abuso racista contra Vinícius Júnior nas duas últimas temporadas.

O pronunciamento da La Liga veio após o jogador se manifestar em suas redes sociais.

“Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar para o mundo a imagem de um país racista”, escreveu. “Sinto muito pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas”, disse Viny Junior em sua postagem, sugerindo que uma falha em agir contra o racismo poderia obrigá-lo a sair do país.

A reação ao que ocorreu no Mestalla reacendeu o debate sobre a forma como o futebol espanhol lida com o racismo dentro dos estádios. Em entrevista à televisão logo após a partida, o técnico do Real Madrid, Carlo Ancelloti, reagiu com incredulidade quando foi solicitado a falar sobre o jogo. “Não quero falar de futebol”, disse. “Eu quero saber sobre o que aconteceu aqui.”

Em poucas horas, o presidente-executivo da La Liga, Javier Tebas, trocou farpas com Vinícius Júnior pelo Twitter. Tebas defendeu a Espanha, detalhou os esforços da liga para combater o comportamento racista e repreendeu Vinícius por não ter comparecimento a duas reuniões para discutir abusos que havia sofrido.

A declaração de Tebas levou a uma resposta furiosa do jogador.

“Mais uma vez, ao invés de criticar os racistas, o presidente da La Liga aparece nas redes sociais para me atacar”, escreveu Vinícius. “Por mais que você fale e finja que não leu, a imagem do seu campeonato foi atingida por isso. Veja as respostas às suas postagens e você terá uma surpresa. Omitir-se só o torna igual aos racistas.”

O incidente atraiu críticas e mensagens de apoio de todo o mundo.

Durante entrevista coletiva no encerramento da cúpula do G7 no Japão, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que queria enviar uma mensagem de solidariedade a Vinícius, dizendo que era “injusto” que ele “seja insultado em todos os estádios onde ele joga”.

“Não é possível, em pleno século 21, ter um preconceito racial tão forte em tantos estádios de futebol”, disse Lula.

Atuais e ex-jogadores também se uniram a Vinícius, criticando as autoridades da Espanha por não fazerem mais para acabar com o racismo, que alguns comentaristas do país costumam descrever como apenas um esforço para ganhar vantagem em campo.

Kylian Mbappé, que quase se mudou para a Espanha na temporada passada para se juntar a Vinícius em Madri, postou uma mensagem de apoio no Instagram. Ele foi acompanhado por Neymar, uma estrela brasileira que também enfrentou abuso racial quando jogou na Espanha pelo Barcelona.

Este incidente mais recente pode se tornar um novo obstáculo para o futebol espanhol no momento em que busca apoio global para sediar a Copa do Mundo de 2030 em conjunto com Portugal e Marrocos.

Fonte: The New York Times

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