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Com avós que trabalharam como alfaiate e costureira, é natural que Soraya Wancour sinta uma conexão emocional com roupas em geral. Quando a designer belga fundou o Estúdio AMA em Ghent em 2020, ela queria criar vestuário que não fosse só bonito, mas que as pessoas se sentissem orgulhosas de usar.

Soraya é uma dentre um crescente número de designers que buscam assegurar que roupas sejam produzidas de maneira sustentável e sem a utilização de trabalho forçado, enfatizando pessoas, bem como o lucro. Para Soraya, saber como, onde e por quem suas roupas são confeccionadas — uma cadeia de fornecimento transparente — é fundamental.

Ela recicla tecidos antigos ou retalhos para utilizá-los em seus designs, e faz parceria com oficinas locais que empregam pessoas com deficiência ou aquelas que podem ter dificuldade de conseguir emprego. Ao trabalhar com produtores locais, Soraya tenta limitar até que ponto suas roupas podem estar maculadas por trabalho forçado e outras práticas antiéticas que assolam a cadeia global de fornecimento de vestuário.

O mercado anseia por “bens sustentáveis que tenham uma cadeia de valor transparente, produtos com uma história anexada”, disse Soraya ao ShareAmerica, acrescentando que as pessoas querem produtos com os quais possam se relacionar “com emoção”.

Muitas vezes, a indústria da moda “não valoriza as pessoas que fazem essas roupas e não valoriza as pessoas que vestem as roupas”, disse ela.

Um exemplo claro das preocupações de Soraya pode ser encontrado na região de Xinjiang da República Popular da China (RPC). A região é uma grande produtora de algodão. Em um relatório de 2020, o Departamento do Trabalho dos EUA* estimou que mais de 100 mil uigures predominantemente muçulmanos e membros de outras minorias religiosas e étnicas podem estar trabalhando em condições forçadas, produzindo têxteis, fios, novelos, luvas e outros itens. Desde 2017, a RPC também já deteve mais de 1 milhão de uigures e outras vítimas em campos de internamento.

A Coalizão para Acabar com o Trabalho Forçado na região uigur calcula que a proporção de roupas de algodão no mercado global que estão “manchadas” por trabalho forçado uigur é de um em cada cinco*.

No mercado global, fibras e produtos de algodão podem mudar de mãos várias vezes, criando uma “cadeia de fornecimento obscura”, disse Patricia Jurewicz, fundadora e diretora-executiva da Rede de Aquisição Responsável em Berkeley, Califórnia.

Governos e grupos de defesa estão tomando medidas para tornar as cadeias de fornecimento mais transparentes. Em 2021, os Estados Unidos proibiram a importação de todos os bens, incluindo produtos de algodão, rastreados até Xinjiang. O Departamento de Estado dos EUA incentiva os consumidores a pesquisar os produtos que compram em busca de links para trabalho forçado ou outras práticas de trabalho de exploração, e informar as empresas sobre suas preocupações.

A União Europeia, a França e a Alemanha também promulgaram ou propuseram requisitos para que grandes empresas conduzam análises de devida diligência a fim de proteger os direitos humanos em suas cadeias de fornecimento.

A Fashion Revolution* (Revolução da Moda, em tradução livre), organização sem fins lucrativos com sede em Londres, lançou a campanha “Who Made My Fabric” (Quem fabricou meu tecido, em tradução livre) em 2021 visando destacar as violações dos direitos humanos em cadeias de fornecimento com raízes na China e em outros países. A organização sem fins lucrativos classifica as empresas pela quantidade de informações que divulgam sobre a origem de seus produtos.

Carry Somers, fundadora da Fashion Revolution, diz que as empresas estão aumentando suas divulgações à medida que cresce a conscientização pública sobre as violações dos direitos humanos. “Marcas e varejistas têm a responsabilidade clara de analisar sua cadeia de fornecimento com o intuito de identificar riscos e impactos aos direitos humanos”, diz a Fashion Revolution em seu site. “Mapear e divulgar suas cadeias de fornecimento é um primeiro passo imperativo para lidar com esses riscos e impactos.”

Source: share.america.gov

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