Tina Turner, a cantora de rock e soul que veio de origens humildes e superou um casamento notoriamente abusivo para se tornar uma das artistas femininas mais populares de todos os tempos, morreu na quarta-feira (24), aos 83 anos.
“Com ela, o mundo perde uma lenda da música e um exemplo”, disse sua família. “Com sua música e sua paixão sem limites pela vida, ela encantou milhões de fãs ao redor do mundo e inspirou estrelas de amanhã. Hoje nos despedimos de uma querida amiga que nos deixa sua maior obra: sua música. Toda a nossa sincera compaixão vai para a família dela. Tina, sentiremos muito a sua falta”, diz um comunicado em sua página no Facebook.
História de luta, abusos e sucesso
Ela nasceu Anna Mae Bullock em 1939, filha agricultores pobres, em uma comunidade rural ao norte de Memphis, no Tennessee, que mais tarde ela tornou famosa em sua canção autobiográfica, “Nutbush City Limits”. Ela passou seus primeiros anos morando com a avó depois que os pais se separaram.
Após a morte da avó na década de 1950, Turner e sua irmã Ruby se mudaram para St. Louis, Missouri, para morar com a mãe.
Foi em St. Louis que ela começou a visitar alguns dos clubes locais e conheceu o músico Ike Turner, cuja banda, Kings of Rhythm, era popular na área. Ele a recrutou aos 17 anos para se juntar a sua banda como cantora.
“Ike teve que vir até em casa e perguntar a Ma (mãe) se eu poderia cantar com ele. Ele sabia que eu tinha potencial para ser uma estrela. Éramos próximos, como irmão e irmã”, contou Turner. “Em suas noites de folga, dirigíamos pela cidade e ele me contava sobre sua vida, seus sonhos. Ele me disse que quando era jovem, as pessoas o achavam pouco atraente. Isso realmente o machucou. Eu me senti mal por ele. Pensei: ‘Nunca vou machucar você, Ike’. Ele foi tão legal comigo na época, mas eu vi o outro lado dele”.
Ela começou a se apresentar como Tina Turner e, em 1960, eles formaram o Ike & Tina Turner Revue. O relacionamento deles evoluiu e eles tiveram um filho, Ronnie, que nasceu no mesmo ano. Eles se casaram em 1962 e criaram quatro filhos, incluindo dois filhos de relacionamentos anteriores de Ike e o filho de Tina, Craig, também de um relacionamento anterior.
Mas Tina contou em sua autobiografia e em entrevistas, que o abuso físico do marido contra ela começou quase desde o início do relacionamento.
Ike Turner tinha acessos de raiva à menor provocação, disse ela, acrescentando que ele batia nela com o que estivesse disponível – cabides, telefones, uma maca de sapato de madeira, os punhos. Muitas vezes, ela disse, ele até batia nela antes de subirem ao palco.
Tina cantava a maioria de suas canções com a ajuda de cantoras de apoio, enquanto seu marido permanecia ao fundo, geralmente na guitarra. Sua parceria musical rendeu uma série de sucessos de R&B, incluindo “A Fool In Love”, “Nutbush City Limits” e “Proud Mary”, seu cover de 1971 de uma música do Creedence Clearwater Revival, que alcançou o quarto lugar nas paradas pop, deu a eles um Grammy.
Mas fora do palco o casamento deles continuou tumultuado, alimentado em parte pelo vício em cocaína de Ike Turner.
Ela ficou com ele por mais de uma década, apavorada com seu temperamento e determinada a não abandoná-lo como outros fizeram. Mas as coisas chegaram ao auge em julho de 1976, quando ela foi atropelada por ele. Ali ela decidiu que não dava mais.
Tina e Ike se divorciaram formalmente em 1978, após uma longa batalha legal. Ela escreveu em seu livro que ele reteve a maior parte dos ganhos e bens que ganharam como casal, enquanto ela cuidava dos quatro filhos do casal. O divórcio quase a arruinou financeiramente e, nos anos seguintes, ela lutou para reconstruir sua carreira.
Seu retorno começou em 1979, quando Rod Stewart a convidou para tocar “Hot Legs” com ele no “Saturday Night Live”. Dois anos depois e, em 1983, seu cover de “Let’s Stay Together” de Al Green se tornou um sucesso na Inglaterra.
Depois veio “Private Dancer”, que a premiou com três Grammys e vendeu mais de 10 milhões de cópias. Embora ela não tenha gostado da música no início e teve que ser convencida a gravá-la, “What’s Love Got to Do With It” fez dela, aos 44 anos, a artista feminina mais velha a conseguir a ter um hit como número 1 no mundo.
Os álbuns de sucesso, singles e shows esgotados continuaram ao longo dos anos 80 e 90.
Turner se mudou para a Suíça na década de 1990 com o namorado alemão Erwin Bach, um executivo de sua gravadora. Ele era 16 anos mais novo. O casal se casou em 2013, após um relacionamento romântico de 27 anos, e em 2022 comprou uma propriedade de US$ 76 milhões no Lago de Zurique.
“Saí da América porque meu (maior) sucesso foi em outro país e meu namorado estava em outro país. A Europa tem apoiado muito a minha música”, disse ela.
Ike e Tina Turner foram incluídos no Hall da Fama do Rock and Roll em 1991 e ela como artista solo, em 2021. “Tina”, um musical baseado em sua história de vida, estreou na Broadway em 2018.
Tina perdeu dois filhos, Craig, que morreu em 2018, e Ronnie, em 2022.
“Alguns dos momentos mais felizes da minha vida foram o nascimento de meus lindos meninos, Craig e Ronnie, e o casamento com meu parceiro e alma gêmea, Erwin Bach”, disse ela ao NBC’s Today Show em 2021.
Profissionalmente, ela disse, seus momentos mais felizes foram se apresentar ao vivo.
“Um dos meus primeiros objetivos de carreira era me tornar a primeira mulher negra a lotar estádios ao redor do mundo”, disse ela à NBC. “Na época, parecia impossível. Mas nunca desisti e estou muito feliz por ter realizado esse sonho.
Fonte: CNN