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A cantora Rita Lee, 75 anos, morreu na noite de segunda-feira (8). Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e desde então tratava a doença.

A família confirmou o falecimento nas redes sociais da cantora. Ela morreu em sua residência, em São Paulo, na capital paulista, no final da noite de ontem. “Cercada de todo amor e de sua família, como sempre desejou”, diz o comunicado da família.

O velório será aberto ao público no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h. “De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular. Neste momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, diz a família.

Rita Lee deixa o marido, Roberto de Carvalho, e três filhos – Beto, de 45 anos; João, de 44; e Antônio, de 42.

A Rainha do rock

Com uma carreira de seis décadas, a paulistana Rita Lee deixou uma marca duradoura com sua irreverência, criatividade e composições contendo mensagens que ajudaram a introduzir o feminismo na sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que abordavam abertamente sua luta contra o uso de drogas.

Embora ela considerasse sua voz “fraca e um pouco desafinada”, “como a de um pardal”, ela desfrutou de uma longa série de álbuns mais vendidos, incluindo “Rita Lee” e “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, e dezenas de suas canções foram apresentadas em telenovelas amplamente assistidas na América Latina.

“Não nasci para casar e lavar cuecas. Eu queria a mesma liberdade dos meninos que brincavam na rua com seus carrinhos”, disse ela à edição brasileira da Rolling Stone em 2008. “Quando entrei na música, percebi que os “machos” reinavam absolutos. ‘Uau’, eu disse, ‘é aqui que vou mostrar minhas presas e, literalmente, dar-lhes uma bronca’.”

Foi uma cantora e compositora elogiada por sua versatilidade. Ela tocava pelo menos cinco instrumentos: bateria, violão, piano, gaita e autoharp. Ela também foi uma das primeiras musicistas brasileiras a usar guitarra elétrica.

Eventualmente, sua popularidade se estendeu para além do Brasil. Apresentou-se em Portugal, Inglaterra, Espanha, França e Alemanha. Em 1988, o jornal britânico Daily Mirror revelou que o então príncipe Charles admirava sua música “Lança Perfume” e a considerava sua cantora favorita. Ela ganhou um Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Língua Portuguesa em 2001, por seu álbum “3001”.

Rita Lee ganhou fama com o grupo Os Mutantes, a partir de 1966. Cores e criatividade, além de ironia e irreverência, foram marcas registradas de Rita desde o início, evidentes nos figurinos extravagantes que ela apresentava em seus shows.

Ela foi uma das primeiras figuras públicas no Brasil a popularizar temas feministas com canções como “Mania de Você”, “Amor e Sexo” e “Lança Perfume”.

Mais velha, ela se tornou vegana e ativista dos direitos dos animais. Por décadas, ela manteve o cabelo ruivo brilhante e costumava usar lentes combinando, um visual popular que ela descartou nos últimos anos ao permitir que o cabelo grisalho crescesse.

Em sua autobiografia, publicada no ano seguinte, ela não se esquivou de relatar os abusos sexuais que sofreu quando criança nas mãos de um homem que veio consertar a máquina de costura da sua mãe.

Ela também se referiu a si mesma como uma “rebelde” e “comunista hippie”, e escreveu sobre sair furtivamente pelas janelas de sua casa quando adolescente para brincar, ser presa durante a ditadura por porte de maconha e suas múltiplas passagens em clínicas de reabilitação por causa de drogas e álcool.

“Reconheço que minhas melhores canções foram escritas em um estado alterado, e as minhas piores também. Só lamento minha demora em perceber que o ‘remédio’ havia expirado há muito tempo”, escreveu ela. “Minha geração sofreu a claustrofobia de uma ditadura brutal, e usar drogas era uma forma de respirar ares de liberdade.”

Rita Lee também escreveu sobre sua própria morte, bem ao seu estilo: 

“Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha do obituário de algumas revistas há de sair”. 

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