Viajar durante a pandemia não estava nos meus planos, porém como a vida é uma caixa de surpresas, surgiu a oportunidade de me mudar para o Havaí e eu nem pestanejei.
Devido a situação mundial atual muitas atrações estão temporariamente fechadas e/ou vazias, o que acabou sendo ideal para pessoas que, como eu, não gostam de lugares lotados e de turistas – mesmo eu sendo um deles.
A primeira coisa que fiz foi procurar um lugar para voluntariar, e, por ser fascinada por como as ilhas havaianas foram formadas, decidi começar a procurar trabalhos voluntários ligados à natureza para entender melhor como as plantas e as árvores começaram a brotar nessas ilhas. Eu sempre fui mais urbana, mas comecei a querer me aproximar da natureza durante a pandemia.
Não demorou muito para eu encontrar uma oportunidade num dos maiores jardins botânicos da ilha de Oahu, Ho’ omaluhia (que significa refúgio pacífico) com 161 hectares de plantas e árvores. Uma das primeiras coisas que aprendi foi que através da natureza é possível conhecer a história do lugar desde a colonização até os tempos atuais.
Lá conheci pessoas locais que me deram várias dicas do que fazer e lugares fora do guia turístico. Por exemplo, a pequena praia de Makapu’u, onde o mar é calmo, mas com ondas suficientes para quem gosta de surfar na paz de uma praia quase deserta.
Além de dicas culturais, que eu adoro, como as crenças religiosas indígenas e as práticas dos havaianos nativos que assim como a nossa umbanda, acreditam em divindades e espíritos encontrados em seres não humanos e na natureza como outros animais, as ondas e o céu.
Entre as divindades estão Laka, Kihawahine, Haumea, Papahānaumoku e, o mais famoso, Pelée, Deus dos vulcões e do fogo, e de templo escondido maravilhoso perto da praia que falei acima, Makapu’u, chamado Pelée’s Chair (Cadeira Pelée) uma jóia escondida com uma das melhores vistas da ilha. É um pouco difícil de escalar, mas vale a pena. Estacione na Makapu’u Lighthouse Road e pegue a trilha não pavimentada em direção ao mar (à direita da estrada – Kaiwi Shoreline Trail). O caminho se bifurca quado você chega ao mar – pegue a bifurcação da esquerda.
O melhor de Oahu é que há muito o que fazer e você não precisa apenas se limitar a belas praias. Contanto que você tenha transporte (alugar um carro é muito simples), há uma abundância de coisas incríveis para fazer em toda a ilha.
Como disse, a ilha está vazia por cau-sa da pandemia, e os lugares turísticos estão vazios, e eu tive muita sorte de pegar a reabertura – depois de sete meses fechado – de um dos lugares mais turísticos da ilha, que se fosse em tempos normais eu provavelmente evitaria, o Hanauma Bay.
É uma área marinha protegida incrivelmente popular para mergulho com snorkel e com cilindro. Cheguei lá antes de abrir e entramos direto. Se você chegar lá depois, espere encontrar filas enormes e um estacionamento lotado. Honestamente, eu senti que o mergulho com snorkel em Hanauma Bay foi um pouco super-estimado. Mas valeu a pena visitar, já que era a reabertura.
Porém, se você gosta de snorkel tenho uma sugestão melhor. Compre o kit de snorkel na Target – não esqueça dos pés de pato – e vá para praia de Lanikai, onde o mar é sem onda com muitos corais e pei-xes coloridos. Lá você também pode alugar uma canoa para ir até uma ilha no meio do mar em frente à praia, aproveite e fique para o pôr do sol que é espetacular. Eu tenho feito isso três vezes por semana.
Com todas essas atividades, se alimen-tar bem é muito importante. Por favor, esqueça os restaurantes para turistas em Waikiki, e explore os restaurantes locais criados por gerações de famílias com comida nativa. Minha sugestão é o restaurante Helena‘s Hawaiian Food, que existe desde 1946 (antes do Havaí pertencer aos Estados Unidos), criado por Helena Chock. É um restaurante simples e despretensioso que agora é administrado pelo neto de Helena, Craig Katsuyoshi.
Lá eu comi as melhores costelas de porco e Ahi frito da minha vida. Se quiser um prato super tradicional experimente Poi e Laulau (o gosto é meio esquesito, mas quem tá na chuva é para se molhar).
Para fechar, meus amigos do jardim botânico me deram dois livros sobre a história do Havaí que eu estou amando e super recomendo para quem deseja absorver mais ainda a história da cultura havaiana. São eles: “A Concise History of the Ha-waiian Islands”, que conta a história desde a colonização até os tempos modernos de forma resumida e concisa, e o livro escrito pelo jornalista Samuel Langhorne Clemens que morou meses na ilha trabalhando como correspondente para um jornal, “Mark Twain in Hawaii: Roughing It in the Sandwich Islands, Hawaii in the 1860’s”
VIVIANE FAVER
Jornalista
vfaver@gmail.com