O desastre ambiental no Pantanal é desolador, e ainda não acabou. Mesmo tendo chovido alguns dias em outubro, os animais ainda estão morrendo de fome, sofrendo queimaduras, além de grande parte da floresta que virou cinza e moradores da região tiveram suas casas queimadas, perdendo tudo o que tinham.
No entanto, em meio a uma das maiores tragédias já registradas no bioma a solidariedade e o trabalho voluntário estão fazendo a diferença, e amenizando as consequências deste desastre ecológico. Em especial, vale destacar a história de união da Ong Ampara comandada por Marcele Becker e a guia turística do Pantanal, Eduarda Fernandes, que se conheceram durante essa tragédia e se uniram para tentar salvar a floresta.
Uma das primeiras pessoas a presenciar essa tragédia e tentar tomar alguma providência foi a guia turística da região e fundadora do Wild Jaguar Safaris, Eduarda Fernandes. Ela conta que tudo começou em julho, quando ela viu os focos de incêndios e fumaças ainda distantes. “Três dias depois o fogo aumentou drásticamente e comecei a encontrar diversos animais machucados precisando de auxílio. Então, tive a ideia de montar um grupo de resgate de animais silvestres. Consegui fazer tudo em uma semana, e por coincidência o nosso veterinário também trabalhava com a Ampara, foi quando surgiu a nossa parceria.”
Ela relata que no começo toda a ajuda foi feita por ongs e voluntários locais Logo as imagens começaram a circular nas redes sociais, e esse desastre ambiental chamou atenção de ongs internacionais que se dispuseram a ajudar. Nesse meio tempo, Eduarda e outros voluntários abriram uma vaquinha no Instagram chamada “Pantanal Relief Fund” e conseguiram arrecadar $75.000 que ajudou na contratação de veterinários, mais equipamentos para resgatar e cuidar dos animais, além de financiar a colocação de cochos com comida para os animais que estavam morrendo de fome.
Sobre sua experiência pessoal de quem trabalha na área, fazendo as trilhas e andando pela floresta, Eduarda se diz sem palavras para descrever o sente. “Tem lugares, em que eu andava todos os dias, e que eu não consigo mais reconhecer, a mesma trilha agora se tornou cinzas, árvores se queimaram por inteira e viraram pó, é um cenário desolador e catastrófico”, lamenta.
A Ong Ampara Silvestre, existe há quatro anos, e com seu departamento específico para reabilitar animais ajudando-os a retornar à natureza, ela começou a agir no Pantanal com 15 voluntários auxiliando nas ações em prol dos animais resgatados das queimadas, como por exemplo, levando comida e água para eles e tratando queimaduras nas patas e no corpo.
Em entrevista com co-fundadora da Amparo, Marcele Becker, ela conta que apesar de ter chovido um pouco nos últimos dias, a situação ainda continua ruim. “Atuamos principalmente na área da Transpantaneira e nossas preocupações agora são: o solo que continua queimando por dentro e machucando as patas dos animais, a sede porque falta água e fome porque todas árvores foram queimadas.” Ela acrescenta que 80% do Parque Estadual Encontro das Águas foi completamente destruído.
Assim como a Eduarda relatou, Marcele Becker concorda que essa tragédia poderia ter sido evitado, se a ajuda tivesse sido mais rápida. Tanto Marcele quanto Eduarda acrescentam dizendo que, no meio disso tudo, a maior de todas as lições é reconhecer a importância das florestas como fonte de vida para o seres humanos viverem nesse mundo. E nunca esquecer que se as florestas forem destruídas todos os seres vivos também morrem.
Dados
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os incêndios na região do Pantanal brasileiro aumentaram 210% em 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Considerando o período de janeiro a setembro de 2019, foram registrados 4.660 incêndios em 2020, sendo 14.489 focos foram gravados. Até então, o recorde era de 12.536 incêndios em 2015, sendo superado nos primeiros sete meses de 2020.
Uma pesquisa publicada pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA) e pelo Sistema Copérnico da União Europeia revelou que os incêndios em New South Wales (Austrália), no Ártico Siberiano, na costa oeste dos Estados Unidos e no Pantanal brasileiro foram o maior de todos os tempos. A pesquisa foi baseada em 18 anos de dados sobre incêndios florestais globais compilados por organizações.
VIVIANE FAVER
Jornalista
vfaver@gmail.com