Não havia como negar que uma vez que em um dos carros principais do Carnaval do Rio apresentou um vampiro em uma faixa presidencial e um terno feito de notas de dólar, ou quando um rato gigante puxou outra alegoria retratando a sede da Petrobrás, a entidade de petróleo corrupta do Brasil,
como uma favela, ou quando os dançarinos retrataram funcionários do governo vestidos como lobos com roupas de ovelha.
O Carnaval não estaria imune à frustração profunda que sentiram os brasileiros em relação à sua classe política. Com o Brasil emergindo de sua pior recessão em pelo menos um século e um escândalo histórico de corrupção ainda dividindo o público, as festividades ofereceram aos brasileiros mais do que uma fuga da vida diária. Eles eram uma plataforma que misturou a alegria com o protesto.
Enquanto o Carnaval no Brasil sempre empurrou a alegria, a celebração deste ano, que terminou em 14 de fevereiro, viu uma mudança de tom diferente dos últimos anos.
Mesmo antes do início do Carnaval, ficou claro que as tensões políticas surgiriam durante o evento de cinco dias. A contundência ocorreu no início do Carnaval, quando os organizadores de um bloco de rua “anti-comunista” nomearam o grupo com o nome da agência policial “Dops” que torturou
dissidentes durante o último regime militar do Brasil. Um juiz ordenou que cancelasse, antes do bloco ir para as ruas.
Essa polarização política tornou-se mais enraizada desde que a ex-presidente Dilma Rousseff foi acusada em 2016. Com uma eleição presidencial a menos de oito meses, o Carnaval pode ter sido apenas um teste para o que está por vir. As filmagens de foliões cantando o nome de Luiz Inácio Lula da Silva ressaltaram o nível de apoio que o ex-presidente e o possível candidato ainda possue. Sua popularidade é tal que a última
pesquisa descobriu que um terço dos eleitores diz que vai
votar em branco ou nulo se ele não puder concorrer na eleição de outubro.
Poucos políticos estabelecidos agitam essa paixão. De fato, a mesma pesquisa descobriu que a desilusão com os políticos brasileiros atingiu o ponto em que 96% dos eleitores não acreditam que nenhum político no cargo os represente.
Não é nenhuma surpresa, então, que muitos brasileiros se sentem compelidos a falar sobre questões que os políticos muitas vezes não vão, como o racismo, a violência e a misoginia.
A escola de samba Paraíso do Tuiuti no Rio fez isso em sua performance, que incluiu referências de escravidão ao realizar uma música que perguntou se a escravidão já terminou realmente no Brasil.
Infelizmente, o crime fora do controle do Brasil também derramou no Carnaval, ambos no palco – a escola de samba vencedora representou um tiroteio em uma favela – e fora. Arrastões, assaltos e violência de gangues mancharam as festividades, que envolveram menos policiais que anos anteriores.
Em São Paulo, um bloco feminista com uma banda formada por mulheres fez chamadas para tornar o Carnaval e o Brasil mais seguros para as mulheres.
ISAURA LA COUR
Jornalista e editora
isaurathebrasilians@gmail.com