Em “Uma criatura dócil”, Dostoiévski mergulha profundamente em seu estilo de “literatura de ideias”, em que explora o universo psicológico dos personagens. O livro é narrado pelo dono de uma casa de penhores que conta sobre seu casamento com uma jovem de 16 anos. A menina, órfã, é maltratada pelas tias e consequentemente fica desesperada para deixar a casa. Por isso, acaba aceitando casar-se com o dono da loja. Aos poucos, entretanto, o marido percebe que não terá, como desejava, a submissão da jovem esposa, então passa a se enredar em uma trama de intrigas e ciúmes. Uma criatura dócil é uma obra-prima da narrativa fantástica de Dostoiévski e leitura obrigatória para os amantes da literatura russa.
Para mim, a mensagem que Fiódor Dostoiévski talvez quisesse nos passar com esse conto, foi a de que a relação humana é e sempre será conturbada, não importando se essa relação é de amor, de ódio ou mesmo amizade, pois toda e qualquer relação sofre com perdas e ganhos de todos os lados, principalmente se houver a questão do orgulho que tanto nos faz perder. A importância daquilo que queremos para nossas vidas vai depender muito de nossas ações e reações e quem fica, também, de certa forma, tem que lidar com isso.
Não se enganem pelo tamanho da obra, pois como dizem por aí, é nos pequenos frascos que encontramos os melhores perfumes. E isso, vale perfeitamente para “Uma criatura dócil” de Fiódor Dostoiévski. Indiscutivelmente, imperdível.
Dostoiévski foi escritor, jornalista e filósofo. Nascido na Rússia, é considerado um dos pais do existencialismo, em virtude de seus romances que retratam de forma filosófica as patologias psicológicas. Após a morte da esposa e do irmão, viu-se afundado em dívidas, tendo de sustentar a família do irmão, o enteado e um segundo irmão alcoólatra. Para fugir à pressão dos credores, acabou se refugiando em diversas cidades da Europa com sua segunda esposa, sem nunca interromper sua produção literária. A necessidade de dinheiro o forçava a concluir rapidamente seus livros e lhe creditou a frase “a pobreza e a miséria formam o artista”. Dentre suas maiores obras estão “Crime e castigo”, “O idiota” e “Os irmãos Karamazov”.