Dono do 2º maior rebanho do mundo, o Brasil é referência quando o assunto é pecuária. Seja de corte ou leiteiro, o gado brasileiro se destaca. Cruzamentos como o Girolando, que já tem até associação, foram criados no Brasil para explorar as vantagens de cada raça. Nessa edição vamos mostrar as oito principais raças de gado do Brasil.
Girolando
Mesmo considerando todas as raças de gado, o holandês é referência na produção de leite. No entanto, por se tratar de um gado europeu, não se dá muito bem com alguns estados mais quentes, como os do nordeste brasileiro.
O gado Gir chegou ao Brasil em 1911 e rapidamente se espalhou por sua rusticidade e rendimento de carcaça. O animal era destaque nos frigoríficos, mas logo perdeu espaço com a chegada do gado nelore. Em 1960, proprietários começaram a fazer a seleção das melhores matrizes leiteiras. Começava assim a história do Gir Leiteiro.
O cruzamento das duas raças se intensificou com o programa PROCRUZA do Ministério da Agricultura na década de 80. O gado ganhou destaque pela boa produção de leite e adaptabilidade. Com o crescimento do rebanho e padronização no cruzamento, a raça foi oficializada em 1996.
Guzerá
Assim como o Gir, o Guzerá é uma raça Zebuína. Dessa forma, também é um gado resistente e facilmente adaptável. Como diz a própria associação, é uma raça de dupla aptidão (corte e leite). Nas últimas décadas a inserção do Guzerá na área leiteira cresceu rapidamente. Assim como o Gir, a raça foi cruzada com o holandês dando origem ao Guzolando. Hoje a raça já conta com matrizes produzindo mais de 6000 kg por lactação, marca expressiva para uma raça zebu.
Holandês
A raça holandesa é mundialmente famosa pela boa produção de leite. Presume-se que a chegada desse gado ao Brasil tenha ocorrido entre 1530 e 1535, na época das capitanias hereditárias.
Por se tratar de uma raça europeia, não é rústico nem adaptável o suficiente para alguns lugares do Brasil. Prova disso é que 84% dos criadores desse gado estão localizados nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais (a maior parte no sul do estado). Entretanto, quando em condições ideais, como confinamento, é um exímio produtor de leite com lactações superando frequentemente os 10.000 kg. Dentre as raças de gado mais presentes no Brasil, é a melhor produtora de leite.
Nelore
Como o mais querido entre os produtores de carne do Brasil, o Nelore também é o maior rebanho bovino brasileiro. Corresponde a 85% de todo o gado. A maior parte desse rebanho é criado a pasto. No entanto, para maximizar os resultados, é necessário fazer uma suplementação mineral.
De origem zebu, o Nelore se tornou tão popular pela rusticidade e bom ganho de peso. A pelagem da raça permite que o animal não sofra tanto com o calor. Dessa forma, é ideal para a pecuária extensiva, que corresponde a 90% da cultura de bovinos no Brasil.
Senepol
De origem africana e grande rebanho nos Estados Unidos, o gado Senepol tem uma história recente no Brasil. Os primeiros animais chegaram nos anos 2000. No entanto, foram importados líderes genéticos da marca e as melhores fêmeas da raça. Como era de se esperar, hoje o Brasil já é referência quando o assunto é genética do gado Senepol.
De aptidão única, o Senepol tem aparecido frequentemente nos frigoríficos. Segundo a própria associação, o gado tem acabamento de carcaça elevado e abate precoce, mesmo a pasto. Por se tratar de uma raça recém-chegada, ain da é pouco difundida, mas promete incomodar as raças zebus nos próximos anos.
Charolês
Proveniente da França, o gado charolês chegou ao Brasil no século XIX, tendo o Rio Grande do Sul como porta de entrada. O crescimento da raça nesse estado foi tão grande, que atualmente o maior rebanho do gado Charolês no mundo está em terras gaúchas. Na década de 60, a criação começou a se expandir para estados do norte e nordeste brasileiro. O cruzamento industrial com o Zebu, veio para aumentar a rusticidade desse gado, proveniente de regiões de clima mais ameno. Como pode-se deduzir, o charolês é uma das raças de gado de corte.
Sindi
Trazido do Paquistão, o Sindi chegou ao Brasil na década de 50 e, como de costume, foi testado para a finalidade leiteira. Mesmo não sendo um exímio produtor, o gado Sindi pode ser considerado de dupla aptidão. Essa raça, como as outras raças Zebu, se destaca pela rusticidade e resistência. Por isso, pode ser visto frequentemente nas terras mais áridas, como no nordeste do país.
Gir Leiteiro
Também de origem Zebu, a história do Gir no Brasil tomou um rumo diferente. Com muito trabalho de melhoramento genético, a raça se tornou ideal para quem busca resistência e boa produção de leite. Hoje, já é reconhecida como o melhor zebuíno para produção de leite em clima tropical. Além disso, traz um leite de alto valor nutricional, aliando bons números de proteína e gordura. É muito encontrada no Sudeste e Centro-Oeste brasileiros, além de algumas partes da Bahia.
Nelore Bombado, conheça a raça criada por brasileiro
Cientistas brasileiros desenvolvem rebanho musculoso com 10% a mais de carne, animais podem reduzir custos ambientais da pecuária e aumentar produtividade. Numa fazenda de Araçatuba, em São Paulo, vive o primeiro rebanho de uma variedade brasileira de nelore nascida com a promessa de aumentar a produtividade e reduzir os custos ambientais da pecuária de corte.
A expansão de pastagens é hoje uma das principais causas de desmatamento. Os novos bois e vacas têm músculos hipertrofiados, que parecem trabalhados em academias de ginástica. Os bezerros, no entanto, são criação de outra academia, a científica. A variedade de nelore bombado é resultado da combinação de tecnologia de genética de ponta e seleção tradicional.
A genética foi usada para facilitar a seleção e tornar o processo mais preciso. Parte do doutorado do veterinário Rodrigo Alonso, o estudo é resultado de 12 anos pesquisas. Uniu seus conhecimentos sobre nelore com o que se sabia a partir dos testes genéticos do pesquisador Amílcar Tanuri, professor da UFRJ e co-orientador do doutorado de Alonso no Departamento de Reprodução Animal da USP.
Com a ajuda de testes genéticos que indicam a presença da mutação que leva ao aumento da massa muscular, pesquisadores desenvolveram a uma variedade de nelore a partir do cruzamento dessa raça com a belgian blue. Nos animais heterozigotos (somente com uma cópia do gene mutado) o ganho de massa muscular não é tão significativo. Por isso, a meta foi chegar a um animal totalmente nelore e homozigoto (com as duas cópias do gene alteradas). Essas são as supervacas. A supermusculosa variedade, batizada de Nelore Myo, é mais produtiva porque tem mais carne. Vaca com mais músculo é vaca com mais carne. E carne mais macia.
Um nelore em ponto de abate pesa cerca de 500 quilos. Desse total, em torno de 265 quilos são carne e osso, as partes efetivamente pagas pelos frigoríficos. No Nelore Myo, chega-se a 300 quilos de carne e osso. Passamos de 53% a 55% para 60%, em termos de aproveitamento. No primeiro abate técnico, houve um ganho de três arrobas. Pela cotação atual do boi gordo, isso dá um ganho extra de R$ 365 por animal.
O Nelore Myo parece mais pesado, mas ele tem mais massa magra, muscular. Por isso, tem mais carne com o mesmo peso — afirma Alonso, coordenador científico do projeto.
Os pesquisadores destacam que a maior produção por animal significa ganho ambiental. Atualmente, o Brasil tem 200 milhões de hectares ocupados por pastagens. Isso representa pouco menos de um quarto do território nacional, com densidade de cerca de um animal por hectare, segundo a Embrapa. A eficiência é baixa. Gado europeu não se adapta ao Brasil. O Nelore possui características e o porte do gado de corte europeu, que é mais produtivo, mas incapaz de se adaptar ao clima tropical da maior parte do Brasil.
O Nelore, originário da Índia, está mais do que em casa no Brasil, representando cerca de 80% das 200 milhões de cabeças de gado de corte locais. Resistente e bem adaptado, ele ganhou porte atlético graças a uma mutação que normalmente não apresenta, no gene da miostatina, associado ao desenvolvimento muscular. Essa modificação pode ocorrer naturalmente em todos os vertebrados, de seres humanos a peixes. Ela confere uma aparência extremamente musculosa e já foi identificada em crianças que nascem muito fortes. Com a mutação, a miostatina não inibe o crescimento de músculos e confere a seus portadores a chamada dupla musculatura. Vacas de raças europeias, em especial a belgian blue, foram selecionadas por terem essa mutação e serem muito musculosas.
Hoje o rebanho de Nelore Myo tem cerca de 500 animais de diferentes idades e graus de pureza nelore, todos com a mutação. Mais que bois e vacas fortes, foi também uma demonstração de força da ciência nacional.
Animais não são transgênicos, a aparência de Arnold Schwarzenegger do mundo dos bovinos do Nelore Myo chama a atenção. Sua modernidade, porém, está ligada apenas ao processo de biotecnologia que permitiu acelerar e aperfeiçoar a mais antiga prática de seleção de animais para produção de alimentos.
Sejam animais ou vegetais, todos os alimentos que consumimos são resultado de uma seleção. Há milênios, o ser humano cruza e seleciona animais com o objetivo de obter características desejáveis. Assim surgiram, por exemplo, todas as raças e variedades de bicho domésticos que conhecemos. Diferentemente de animais desenvolvimentos por meio de alterações genéticas (transgênicos), os criados por seleção não ganham genes ou mutações em genes que não existam naturalmente em sua espécie.
Volnei Garrafa, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética da Universidade de Brasília (Neped/UnB), diz que, por mais que algumas pessoas possam se chocar com certas características, não existe, a princípio, nada de antiético em selecionar características úteis para o ser humano. Se essa novidade não traz riscos para a saúde humana ou para o meio ambiente e pode aumentar a oferta de alimento, não vejo problema. Claro, existem outras considerações, de ordem moral, para algumas pessoas. Toda discussão precisa ser plural — afirma Garrafa. Ele ressalta que isso não diz respeito somente aos animais que são criados para consumo: — Há, por exemplo, pessoas que são veganas porque se preocupam com o sofrimento dos animais abatidos, mas que, ao mesmo tempo, criam raças de cães altamente questionáveis. Existem cachorros que apresentam cabeças enormes ou corpos disformes. E eles sofrem muito com isso. Garrafa, conhecido por estudos pioneiros no Brasil sobre transgênicos, clonagem e células-tronco, acredita que a sociedade precisa, sobretudo, se rediscutir: — O ser humano mudou a si mesmo. Podemos nos reproduzir em labratório, comemos alimentos transgênicos e prolongamos a vida de modo totalmente artificial. Nada mais é natural. Quais são os limites? Essa é uma discussão ética profunda e necessária.
Fontes: www.calciolandia.com, www.gadoholandes.com, www.senepolcmi.com.br & www.3agenetica.com.br. Conteúdo Reproduzido do site O Globo para o site www.comprerural.com.