Quando se trata do mundo da mídia social e do engajamento para com o varejo, nada recebe mais atenção na imprensa do que os chamados influencers – aqueles que fazem notícias a cada postagem na mídia social e podem gerar polêmica com um simples Tweet. Os maiores nomes nos rankings globais em termos de seguidores são, é claro, celebridades que conseguram transformar sua base mundial de fãs em milhões de seguidores no Instagram e no Twitter. Por exemplo, o craque português do futebol Cristiano Ronaldo lidera o Instagram com mais de 250 milhões de seguidores em todo o mundo, enquanto o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é o rei global do Twitter com mais de 130 milhões de seguidores na plataforma. Se você percorrer os maiores nomes no Facebook, Twitter e Instagram, verá nomes como Kim Kardashian, Kylie Jenner e um bando de cantores, atletas e estrelas de cinema famosos. Mas no YouTube e no Tik-Tok, duas das plataformas de mídia social mais badaladas, os maiores nomes tendem a ser pessoas que não eram nada famosas antes de entrar nas redes sociais, tais como o inglês PewDiePie, o brasileiro Whindersson Nunes, os americanos Charli D’Amelio e Spencer X e a brasileira Lu. Embora todos esses nomes sejam pesos-pesados das mídias sociais, nenhum deles é tão único quanto a influencer brasileira Lu.
Com mais de 25 milhões de seguidores nos canais de mídia social, ela é de longe a influencer virtual mais seguida no mundo. Isso mesmo, a Lu é 100% digital.
Nascida em 2003 – ideia de Frederico Trajano, hoje CEO do Magazine Luiza, um dos maiores varejistas do Brasil – a Lu é uma voz poderosa em todo o Brasil e oferece uma ideia de como será o cenário dos influencers sociais no futuro. Ela emergiu não apenas como mascote ou um brinquedo virtual em 3D – a Lu é, num sentido muito literal, o rosto do Magazine Luiza, ou Magalu como a empresa é conhecida no Brasil. Ela cumpre diversos papéis chaves para a rede varejista: é especialista que fala das tendências emergentes, recomendando novas marcas; é revisora e palpiteira sobre os novos produtos de tecnologia; é guia geral para o conjunto de ferramentas e plataformas digitais da empresa; muito embora, talvez o papel mais importante dela é a de ser a embaixadora sênior da empresa, abordando uma série de assuntos de momento que mexem com os valores fundamentais do Magalu.
Considere, por exemplo, o seguinte: no ano passado, nos primeiros dias da pandemia, a Lu lançou uma série de vídeos no YouTube e fez postagens nas redes sociais sobre o perigo das fake news, e onde se deve recorrer se estiver preocupado com a qualidade das informações que estão recebendo sobre o vírus. Outrossim, a Lu tem sido uma defensora acérrima dos direitos das mulheres, igualdade racial, proteção ambiental e uma série de outras questões sociais que são fundamentais para o conjunto de valores de Magalu. O resultado final é que, embora os brasileiros saibam perfeitamente que a Lu não é uma pessoa real, ela já tornou-se uma das vozes mais queridas e confiáveis no panorama da mídia brasileira, perfurando a cacofonia diária de ruído produzido por veículos de notícias e as redes sociais.
O sucesso da Lu inspirou outras marcas brasileiras a experimentar com seus próprios avatares e, embora alguns tenham tido um pouco de êxito, nenhum chegou nem perto de replicar o sucesso da Lu – provavelmente porque o Magalu tem dedicado uma equipe inteira de especialistas de marketing, designers, e tecnólogos para apoiá-la; tudo, desde os novos penteados dela até a sua famosa saudação “Oi gente” é cuidadosamente administrado até os mínimos detalhes. Ao contrário da Lil Miquela Sousa, a modelo e cantora também supostamente brasileira que reside em Los Angeles que gerou polêmica durante as eleições dos EUA de 2020 quando “ela” foi forçada a admitir que na verdade não é uma pessoa real e era de fato um avatar, o sucesso da Lu não decorre dela ter enganado milhões de pessoas a pensarem que ela era real. A verdade é que, ao que parece, os brasileiros estão participando da piada e se engajando ativamente em blogs e salas de bate-papo onde debatem-se e analisam o backstory desta figura única.
Se tudo isso parece um tanto exagerado para você compreender completamente, você não está sózinho; a Lu do Magalu é um vislumbre do futuro da mídia e da comunicação. E o fato da Lu ser um produto do Magalu é apenas mais uma prova de que algumas das ideias mais inovadoras do mundo que se situam na encruzilhada da tecnologia, igualidade social e do varejo estão vindo do Brasil.
ARICK WIERSON
Colunista da CNN, produtor de televisão & assessor político
Twitter: @ArickWierson