O Brasil acabou de passar por um ciclo eleitoral repleto de desinformação e teorias da conspiração. Muitas tão absurdas, que nos leva a questionar: “por que tantas pessoas acreditam em mentiras?”
Culpe o cérebro.
Uma interessante matéria publicada pelo jornal The Washington Post relata que muitas das decisões que tomamos como indivíduos e como sociedade dependem de informações precisas; no entanto, nossos preconceitos e predisposições psicológicas nos tornam vulneráveis a mentiras. Como resultado, é mais provável que a desinformação seja acreditada e posteriormente lembrada – mesmo depois de sabermos que era falsa.
“Por padrão, as pessoas acreditarão em qualquer coisa que virem ou ouvirem”, disse Stephan Lewandowsky, psicólogo cognitivo da Universidade de Bristol especializado em entender como as pessoas respondem a correções de desinformação, ao The Washigton Post. Em nosso dia a dia, “isso faz muito sentido porque a maioria das coisas a que estamos expostos são verdadeiras”, completou.
Ao mesmo tempo, quanto mais vemos algo repetido, mais provável é que acreditemos que seja verdade. Esse “efeito de verdade ilusória” surge porque usamos a familiaridade e a facilidade de compreensão como abreviação da verdade; quanto mais algo é repetido, mais familiar e fluente parece, seja desinformação ou fato.
Então, se você ouvir algo repetidas vezes, probabilisticamente, será a verdade. O nosso ambiente político atual, através das mídias sociais, pode repetir e amplificar falsidades com enorme poder de alcance.
Também estamos mais suscetíveis à desinformação que se encaixa em nossas visões de mundo ou identidades sociais, e podemos cair no viés de confirmação, que é a tendência de procurar e favorecer informações que se encaixem no que já acreditamos.
Para completar, vários estudos já demonstraram que a desinformação ainda pode influenciar nosso pensamento, mesmo quando recebemos a correção, um fenômeno conhecido como “efeito de influência contínua”.
Uma das maiores barreiras para corrigir a desinformação é o fato de que ouvir a verdade não apaga uma mentira de nossa memória. Em vez disso, a mentira e sua correção coexistem e competem para serem lembradas.
Ignorar a desinformação requer todo um processo cognitivo extra para marcá-la como falsa em nossa memória. “Mas a essa altura, de certa forma, é tarde demais, porque já está na sua memória”, afirmou Lewandowsky.
Com o tempo, nossa memória da verificação de fatos pode desaparecer, deixando-nos apenas com a desinformação.
Os políticos costumam repetir mentiras e parecem estar bastante cientes do poder do “efeito ilusório da verdade” e de influência continua” em nosso cérebro.
Fonte: The Washington Post