O meu convidado de hoje é o Dr. Antonio Cabrera Mano Filho, 63 anos, ex- Ministro da Agricultura, foi consultor das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e empresário com 24 propriedades espalhadas por cinco estados da União.
É filho e neto de imigrantes espanhóis, franceses, italianos e portugueses ligados ao campo.
Nasceu e passou toda a infância em uma fazenda na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, filho de Antonio Cabrera e Dora Carvalho e 3 irmãos: Mauricio, Ben Hur e Alexandre e uma irmã, Dora Marcia.
Dr. Antonio é veterinário com pós-graduação em nutrição animal na Índia. Casou-se aos 33 anos de idade com a Angela com quem construiu sua vida ao lado dos 4 filhos: Barbara, Antonio, Vitoria e Giovana.
Aryane Garcia: Durante a sua adolescência, em algum momento você imaginou estar na posição que se encontra hoje?
Cabrera: Sempre gostei do campo e sempre imaginei em ser um agricultor. Mas nunca imaginaria que ocuparia o cargo de Ministro da Agricultura. Esta foi uma agradável surpresa que Deus acabou oferecendo.
AG: Ainda na sua infância, você era influenciado por quais artistas que hoje perderam a referência com a revolução digital e advento da internet?
Cabrera: Quando criança, assistia uma série na TV chamada “Bonanza” e que mostrava as dificuldades da vida em uma fazenda. Depois, com o passar do tempo, gostava do sertanejo raiz, como Tião Carreiro e Pardinho, Chitãozinho & Xororó e Sérgio Reis. Destes, Sergio Reis ainda continua imbatível.
AG:Após anos de aprendizado, tornar-se um(a) profissional reconhecido(a) na sua área lhe traz facilidades laborais para opinar em outras áreas/empresas do segmento?
Cabrera: Sim, todo reconhecimento é muito bem-vindo. E o agro brasileiro é apaixonante. Somos hoje um dos maiores produtores de alimentos do mundo, usando apenas 8% do território para o Agro, temos o maior programa de bioinsumos do mundo, temos o único programa de Agricultura de Baixo Carbono do mundo, temos o maior programa de substituição de combustível fóssil, maior programa de utilização de microorganismos para fixação de N do mundo, o único com um Código Florestal, ainda somos o país que mais recicla embalagens vazias no campo (90%) e temos a maior reserva florestal do planeta.
AG: Entre os seus hábitos produtivos durante a semana, existem preceitos adaptados por você que foram inseridos na sua rotina e que hoje você os aconselha para seus demais colaboradores e colegas mais jovens de trabalho?
Cabrera: Acordar cedo, ter uma visão positiva do trabalho, organização e respeito com os seus colaboradores.
AG: Qual o seu panorama sobre a situação econômica do Brasil nos últimos 20, 10 e 5 anos?
Cabrera: Poucos países no mundo tiveram uma performance como o Brasil nestes últimos 20 anos. As exportações do Agro de 2020 para 2022 subiram 60%: de 100 para 160 bh dólares em plena pandemia. Nos anos 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 20 bilhões. Em 2022, US$ 160 bilhões, oito vezes mais em 22 anos. Qual é o país que fez isso? A primeira vez que produzimos 100 milhões de toneladas de grãos foi 2001. Demoramos 500 anos para chegar a isso. Quatorze anos depois, em 2015, produzimos 200 milhões, e neste ano, oito anos depois, mais de 300 milhões de toneladas de grãos.
AG: Das mais diversas dificuldades e oportunidades que você encontrou no decorrer da sua carreira, fazer parte do agronegócio, o setor mais lucrativo no Brasil, lhe ajuda a entender a situação social do país? Quais são seus planos para colaborar com a inclusão dos jovens e mais mulheres no setor?
Cabrera: Sim, o Brasil é o único país do mundo que em o nome de árvore, e isto mostra a nossa natural vocação para o Agro. E através do Agro podemos dar um impulso gigantesco na industrialização do país promovendo a agroindústria em nosso segmento. E o dinamismo do setor gera muitos empregos e hoje temos uma população de jovens no campo que nenhum outro grande produtor tem no mundo. Isto é motivo para enxergar um futuro melhor. Se me solicitassem um conselho para os jovens, eu diria: estude, trabalhe e case. Estes 3 passos da vida são a receita certa para uma vida de mais prosperidade.
AG: A sua participação diária e ativa com as estatísticas econômicas do Agro lhe entregam uma variedade de oportunidades de crescimento. Na sua opinião, como o Agronegócio permanecerá em alta nos próximos anos – de acordo com o seu ramo de atuação?
Cabrera: Eu enxergo o nosso futuro com otimismo, apesar dos percalços que ainda temos no Brasil. Cada vez mais as pessoas deixam a pobreza no mundo, principalmente na Ásia e mudam de vida. Este aumento na renda provoca uma alteração na dieta alimentar, diminuindo o consumo de proteínas vegetais e aumento das proteínas animais. Isto assegura um futuro para os produtores brasileiros que serão, cada vez mais, os responsáveis pela alimentação destas novas bocas que estão nascendo.
AG: De acordo com a sua experiência, em níveis globais, o Agro enfrenta desafios para comunicar com o mundo a sua importância no impacto de toda a cadeia produtiva?
Cabrera: Sim, ainda precisamos contar melhor a nossa história. O Brasil tem o maior ativo ambiental, mas ainda somos o que mais sofre com críticas no cenário internacional. Precisamos nos comunicar melhor como o nosso consumidor final, principalmente na Europa. Neste continente, o agricultor brasileiro ainda é um ilustre desconhecido.
AG: Como convencer a sociedade de que o Agro não é o principal responsável pelo aquecimento global? Qual a notícia ou manchete que deve ser desmentida por ter prejudicado falsamente o setor?
Cabrera: Com a ciência e com a verdade. Estes eventuais detratores do Agro brasileiro terão que ajustar suas crenças às evidências dos números impressionantes da sustentabilidade da nossa produção agropecuária. Mas também temos que ser realistas, pois esta campanha contra o Agro não vai parar: o Brasil cresceu, tomou mercados de outros países e cada vez mais veremos uma suposta “batalha ambiental” travestida mais como uma campanha para proteger os nossos concorrentes. E a maior fake news que temos hoje é sobre a destruição da Amazônia. O Agro está a milhares de quilômetros de distância da floresta amazônica e não estamos destruindo este admirável patrimônio das gerações futuras.
AG: A popularidade dos produtores rurais está em risco e quais seriam os motivos para a demonização da composição ruralista?
Cabrera: Hoje eu entendo que a maior preocupação do produtor brasileiro é com o próprio governo. Em alguns momentos eu penso que estamos dormindo com o inimigo. É uma pena, mas o governo atual parece enxergar o Agro como um inimigo a ser abatido. Vide as suas últimas ações ou declarações: Marco Temporal, Seguro Rural.
AG: Quais os maiores nomes do Agronegócio brasileiro que influenciaram a sua vida e quais os principais no mundo que lhe fizeram mudar a visão e dinâmica para desbravar o percurso?
Cabrera: O Professor Malavolta e o Ministro Alysson Paolineli. Este último, junto com imigrantes do sul do país desbravaram o cerrado brasileiro e nos transformaram no que somos hoje.
AG: O fio condutor do sucesso do agronegócio é a economia; você acha possível que o Brasil diminua o poder de compra e passe por uma recessão econômica? Como o Brasil poderá se blindar de uma crise alimentar?
Cabrera: Se continuarmos nesta toada, creio que os próximos 3 anos serão anos difíceis. Não que teremos uma crise alimentar, pois o Brasil tem produção para encher as gondolas de seus supermercados. Mas pelo caminho político errado que estamos tomando. Veja, a reforma tributária recém aprovada, segundo um estudo recente, vai aumentar os impostos para 93% das empresas. E quem vai pagar este custo, infelizmente, será o consumidor final.
AG: Se você pudesse criar algumas regras sociais que favoreçam a dinâmica produtiva do Agronegócio e do povo brasileiro, quais seriam as suas propostas de lei?
Cabrera: O que o Agro brasileiro mais precisa hoje é liberdade. Liberdade para explorar as suas jazidas de fertilizantes, liberdade para utilizar os 3 Mississippis que temos (Madeira, Araguaia-Tocantins e Teles Pires-Arinos-Tapajós), liberdade para construir a Ferrogrão (que está parando por uma decisão do Ministro Alexandre de Moraes) e por aí vai.
AG: Das mais variadas atitudes que aceleram o crescimento do Brasil, qual a maior contribuição que essa geração poderá entregar que irá impactar os próximos 30 anos?
Cabrera: Creio que esta geração de jovens atuais está confirmando que o Brasil é o futuro: seremos grandes produtores de alimentos dentro de uma Economia do carbono neutro ou economia ambiental que será a mais importante de toda a história do Brasil, maior do que qualquer outro ciclo econômico que já tivemos.
AG: Se você pudesse escolher uma cidade brasileira para viver até o último dia de sua vida, qual seria e por quê?
Cabrera: São José do Rio Preto. Aqui nasci, casei, criei os meus filhos e aqui pretendo terminar o meu “bom combate”, se Deus quiser.
Conecte-se ao nosso entrevistado através do seu instagram: @fe.trabalho e conheça mais sobre o seu legado através do site www.grupocabrera.com.br
ARYANE GARCIA
Jornalista
aryanegarcia@hotmail.com