Milhões de pessoas, em números não vistos em décadas, estão deixando suas casas em toda a América Latina em direção aos Estados Unidos. Embora a travessia de imigrantes pela fronteira sul dos EUA sempre tenha sido intensa, a pandemia e a recessão que se seguiu atingiram a América Latina com mais força do que qualquer outro lugar do mundo, mergulhando milhões na fome, na miséria e no desespero.
Anos de progresso contra a pobreza extrema foram dizimados. O desemprego atingiu o maior nível em duas décadas. A invasão da Ucrânia pela Rússia bloqueou uma importante passagem para grãos e fertilizantes, provocando um aumento nos preços dos alimentos.
Os choques econômicos foram agravados pela violência, à medida que o conflito entre grupos armados cresceu em países outrora relativamente pacíficos e se alastrou ainda mais em locais já acostumados ao terror.
Diante desse cenário, traficantes de pessoas lançam poderosas campanhas nas mídias sociais, muitas repletas de desinformação, que incentivam as pessoas a migrarem para os Estados Unidos.
Isso significa que com a suspensão da política conhecida como Título 42, instaurada durante a pandemia, a partir desta quinta-feira (11), os EUA provavelmente irão encarar um desafio ainda maior do que o enfrentado quando a medida que permitia a expulsão imediata de imigrantes que cruzavam a fronteira ilegalmente foi imposta pela primeira vez, há três anos.
No entanto, a partir de hoje, os imigrantes que entrarem no país ilegalmente terão a oportunidade de solicitar asilo, algo que muitos foram impedidos de fazer durante os três anos em que a restrição de saúde pública estava em vigor.
A qualificação não será fácil – o governo Biden está implementando novas restrições de elegibilidade – e se o processo funcionar como planejado, muitos ainda serão deportados com relativa rapidez.
Mas o fluxo de pessoas crescente no norte do México pode sobrecarregar o sistema, o que significa que mais pessoas, especialmente famílias e crianças, poderão ser liberadas nos EUA com uma notificação para comparecer perante um juiz de imigração.
As mídias sociais estão sendo usadas para anunciar falsamente as mudanças nas regras na fronteira. No TikTok, as postagens com a hashtag #titulo42 foram visualizadas mais de 96 milhões de vezes. Uma das postagens mais vistas afirmava: “11 de maio: você não pode ser deportado. O título 42 chegou ao fim.”
Muitos imigrantes vêm de lugares como a Venezuela, que já passava por uma das piores crises econômicas do mundo antes da pandemia. Grande parte do país afundou ainda mais na miséria quando o Covid-19 fechou o mundo. Uma saída em massa de pessoas se aprofundou, elevando o número total de venezuelanos que fugiram desde 2015 para 7,2 milhões – aproximadamente um quarto da população.
Na Colômbia, onde as proteções aos trabalhadores são fracas, o desemprego atingiu a maior taxa já registrada. O Brasil registrou o segundo maior número de mortes por Covid no mundo. Imigrantes que já haviam viajado da América Latina para esses dois países estavam entre os primeiros a perder qualquer esperança de melhoria de vida.
Os nicaraguenses historicamente imigram para o norte em números relativamente pequenos. Mas a inflação, a queda dos salários e um governo cada vez mais autoritário levaram centenas de milhares a deixar o país nos últimos anos.
A violência de gangues e os homicídios explodiram no relativamente tranquilo Equador. O Haiti foi atingido por um surto de cólera, uma crise extrema de fome e uma guerra entre grupos criminosos armados – tudo ao mesmo tempo.
Desde que assumiu o cargo, segundo dados federais, o governo Biden permitiu que cerca de 1,8 milhão de imigrantes permanecessem no país enquanto aguardavam audiências de asilo, muitos deles se entregaram após cruzar a fronteira.
Reportagem do The New York Times.
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