Um julgamento de estupro em massa, que vem despertando atenção mundial, terminou na quinta-feira (19), com Dominique Pelicot, o principal acusado e outros 50 homens todos considerados culpados de estupro ou agressão sexual da ex-esposa de Pelicot Gisèle Pelicot.
Dominique Pelicot, 72, recebeu a sentença máxima de 20 anos por estupro qualificado. Ele recrutava homens para estuprar a própria esposa enquanto ela estava inconsciente. Quarenta e oito outros homens foram considerados culpados por estupro qualificado e dois de agressão sexual.
O julgamento – que chocou a França e levou o país a examinar uma cultura que luta contra a misoginia generalizada e a agressão sexual sistêmica – galvanizou as mulheres a exigir uma mudança na forma como o país aborda a violência de gênero.
Elas conseguiram fazer isso por causa da decisão incomum que Gisèle Pelicot tomou ao abrir mão de seu anonimato para tornar o julgamento público – um ato que muitos chamaram de heróico. Por meses, Gisèle enfrentou seus agressores no tribunal, permitindo que o mundo visse os horrores que ela suportou de seu marido e dezenas de outros estupradores por mais de uma década.
Pela lei francesa, Gisèle poderia ter pedido que o julgamento fosse realizado a portas fechadas. Em vez disso, ela pediu que fosse realizado em público, dizendo que esperava que isso ajudasse outras mulheres a se manifestarem e mostrarem a outras vítimas de agressão sexual e estupro que elas não têm nada do que se envergonhar.
Falando após os vereditos serem proferidos do lado de fora do tribunal em Avignon, sul da França, Gisèle ressaltou sua solidariedade com outras sobreviventes de agressão sexual.
“Penso em todas as vítimas desconhecidas de histórias que muitas vezes se desenrolam nas sombras. Quero que vocês saibam que compartilhamos a mesma luta”, disse ela.
A mulher de 72 anos também enfatizou que “nunca se arrependeu” da decisão de tornar isso público, dizendo que as mensagens recebidas dos apoiadores lhe deram a “força” necessária para continuar.
Embora Dominique Pelicot recebeu a pena máxima permitida na França por estupro agravado, outros que visitaram a casa do casal para cometer o crime receberam sentenças menores.
Isso deixou muitos irritados e desiludidos, incluindo os filhos de Dominique e Gisèle Pelicot. Eles dizem que tais sentenças falham em reconhecer a gravidade dos crimes dos estupradores e ressalta a abordagem abaixo do padrão da França para lidar com a violência sexualizada.
Olympe Desanges, uma ativista dos direitos das mulheres, disse à CNN: “Como mulher e feminista, sinto-me decepcionada e humilhada por esses vereditos”.
Sarah McGrath, CEO da Women for Women France, disse à CNN que a França é “notória por ter sentenças realmente muito brandas”.
“Temos um sistema de justiça realmente problemático quando se trata de julgar casos dessa natureza. As mulheres na França simplesmente não confiam no sistema de justiça francês”, disse ela, apontando para o fato de que apenas 10% das vítimas de estupro denunciam o crime ao sistema de justiça. E desses relatos, apenas 1 a 4 por cento terminam com uma condenação.
Source: CNN