O deputado George Santos, o republicano nova-iorquino de origem brasileira, cuja rede de mentiras e esquemas o tornou uma figura ridicularizada nacionalmente e indiciada criminalmente, foi expulso do Congresso na sexta-feira (1) após uma votação bipartidária histórica.
A medida consignou Santos, que ao longo da sua curta carreira política inventou ligações com o Holocausto, o 11 de Setembro e o tiroteio na boate Pulse em Orlando, a um lugar genuíno na história da política americana: ele é a primeira pessoa a ser expulsa da Câmara dos Representantes sem ter sido primeiro condenada por um crime federal.
A expulsão, que exigia uma maioria de dois terços, foi aprovada com 311 legisladores a favor da expulsão, incluindo 105 republicanos, e 114 contra. A maioria republicana, que já estava apertada, fica agora ainda mais estreita.
A decisão dos deputados põe fim a uma das odisseias políticas mais turbulentas da memória recente, uma surpreendente reviravolta na sorte de um forasteiro político cuja eleição em Long Island e Queens no ano passado foi outrora anunciada como um sinal do ressurgimento republicano no distrito.
Em vez disso, Santos tornou-se uma figura passiva no Partido Republicano, cuja vasta rede de mentiras e delitos levou muitos a questionar como é que ele conseguiu “escapar” durante tanto tempo.
Santos saiu da Câmara antes do término da votação. Descendo os degraus da Câmara até um carro que o esperava, Santos disse aos repórteres que estava pronto para virar a página do Congresso.
“Por que eu iria querer ficar aqui?” ele disse. “Para o inferno com este lugar.”
Um debate no plenário da Câmara na quinta-feira (30) destacou o absurdo dos escândalos de Santos. O uso de fundos de campanha para tratamentos de botox foi invocado diversas vezes, até mesmo por aqueles que o defendiam. Os deputados apontaram as ligações inventadas com o Holocausto e as afirmações, contrariadas por documentos, de que a sua mãe estava no World Trade Center no 11 de Setembro.
Mesmo com novas acusações criminais surgindo, Santos foi sobrevivendo graças aos esforços do ex-presidente da câmara, Kevin McCarthy, que parecia não querer correr o risco de perder a cadeira dele para um democrata numa eleição especial.
Mas depois de uma comissão de ética ter divulgado um relatório contundente de 56 páginas classificando a candidatura de Santos como uma fraude que ele explorou para lucro pessoal, a maré política do jovem republicano começou a mudar.
As questões abordadas pelo relatório de ética sobrepõem-se significativamente às acusações criminais que Santos enfrenta. Os investigadores encontraram “evidências substanciais” de que Santos violou a lei federal. Ele se declarou inocente e se recusou a renunciar.
A governadora Kathy Hochul, de Nova York, deve agora agendar uma eleição especial para preencher a vaga deixada por Santos.
Santos é apenas o sexto membro da Câmara a ser expulso na história da casa. Três representantes foram destituídos em 1861 sob acusação de traição no início da Guerra Civil. Outros dois foram condenados em um tribunal criminal antes de serem expulsos, um em 1980 e o mais recente em 2002.
Fonte: The New York Times