O maior médium de todos os tempos, não somente é admirado pelos espíritas, mas também por pessoas de todos os segmentos religiosos, políticos e sociais – nacionais e internacionais – que viram a seriedade dos postulados que abraçara e exemplificara durante 92 anos de vida, sendo indicado, inclusive, ao prêmio Nobel da Paz, em 1981, e eleito o cidadão mineiro do século. Fenômeno é um adjetivo constantemente usado para qualificar este homem singular. Tendo cursado apenas o primário, escreveu centenas de livros e mensagens em vários idiomas. Poderia ter ficado rico, mas viveu, até o seu último dia, com o salário de sua aposentadoria, sem usufruir materialmente dos ganhos obtidos com suas obras. Seu falecimento se deu no mesmo dia em que o Brasil festejava a conquista mundial no futebol em 2002, o que lhe permitiu voltar ao mundo espiritual sem muito alarde, colocando em prática até o último momento a humildade, maior característica desse Espírito iluminado, que exemplificou os ensinamentos de Jesus, em especial aquele que dizia: “Quem deseja ser o maior, que seja o servidor e o menor de todos”.
Nascido Francisco de Paula Cândido Xavier, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, teve oito irmãos. Era parte de uma família de modestas condições, filho de João Cândido Xavier, um vendedor de bilhetes de loteria, e de Maria João de Deus, uma lavadeira católica, ambos analfabetos. Segundo biógrafos, a mediunidade de Xavier teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade. Sua mãe faleceu em 29 de setembro de 1915, quando tinha apenas 5 anos.
Entrou para a escola primária com oito anos de idade, onde estudava pela manhã e depois trabalhava numa indústria de fiação e tecelagem. Em 1922, quando estava no quarto ano, recebeu menção honrosa por uma redação em um concurso estadual sobre o Centenário da Independência do Brasil, que ele confidenciou ao professor ter sido ditada por um “homem do outro mundo”.
Dos nove filhos seis foram entregues a padrinhos e amigos.
Francisco foi criado pela madrinha e antiga amiga de sua mãe, Rita de Cássia, descrita como “muito severa, muito desequilibrada emocionalmente, uma perturbada” por Eurípedes Tahan Vieira, médico de Chico e amigo da época de juventude, ela açoitava-o com uma vara de marmelo, e passou a cravar-lhe garfos de cozinha no ventre, não permitindo que ele os retiras-se, o que lhe ocasionou terríveis sofrimentos. Os únicos momentos de paz que tinha consistiam nos diálogos com o espírito de sua mãe.
Várias vezes, Chico ouvia sua falecida mãe dizer que enviaria um anjo para reunir toda a família. Como sua mãe havia dito, o pai de Chico casou-se novamente; desta feita com Cidália Batista, de cujo casamento advieram mais seis filhos. Sua segunda mãe Cidália, reuniu todos os filhos e os tratava com muito carinho.
Chico Xavier passou a ter sonhos e, durante a noite se levantava agitado e conversava com os espíritos. De manhã, contava seus sonhos a sua família. O pai resolveu levá-lo ao vigário da cidade de Matozinhos que depois de ouvi-lo recomendou que o garoto não lesse mais jornais, revistas e livros.
Ao conversar com sua mãe, triste por não ser compreendido por ninguém, Chico escutou dela que precisava modificar seus pensamentos, que não deveria ser uma criança indisciplinada, para não ganhar antipatia dos outros. Deveria aprender a se calar e, quando se lembrasse de alguma lição ou experiência recebida em sonho, que a seguisse.
Disse-lhe que ele precisava aprender a obediência para que Deus um dia lhe concedesse a confiança dos outros. Durante sete anos consecutivos ele não teve mais qualquer contato com sua mãe falecida.
Educado na fé católica, Chico Xavier obedecia às obrigações que lhe eram indicadas pela Igreja. Levantava cedo para começar as tarefas escolares e, em seguida ia para o serviço da fábrica de tecidos.
Em 1925, Chico deixou a fábrica indo trabalhar na venda do Sr. José Felizardo. As perturbações noturnas voltaram e depois de dormir, caia em transe profundo.
A primeira e única professora de Chico que descobriu sua mediunidade psicográfica foi D. Rosália, que fazia passeios campestres com os alunos e no dia seguinte eles deveriam levar uma redação descrevendo o passeio. As de Chico tiravam sempre o primeiro lugar.
Em 1927, então com dezessete anos de idade, Francisco viu-se diante da insanidade de uma irmã, que acreditou ser causada por um processo de obsessão espiritual. A família teve que recorrer ao casal de espíritas, Sr. José Hermínio Perácio e dona Carmem Pena Perácio, que após algumas reuniões e o esforço da família do Chico, sua irmã viu-se curada. A partir daí, foi mantido o Culto do Evangelho no Lar, até que naquele ano de 1927, o Chico, respeitosamente, despediu-se do bondoso padre, que lhe desejou amparo e proteção no novo caminho.
Em junho do mesmo ano, foi cogitada a fundação de um núcleo doutrinário. Em 1927, o Centro Espírita Luiz Gonzaga, sediado na residência de João Cândido Xavier, que se fez presidente da instituição, já estava formado e bem frequentado.
Nesta época, passou a escrever poesias, cuja autoria atribuía aos espíritos. A partir de 1931 passou a afirmar que os autores eram diversos poetas falecidos. Em 1928, começou a publicar nos periódicos O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal.
As Primeiras Obras
Em 1931, em Pedro Leopoldo, perdeu a madrasta Cidália e deu continuidade à obra Parnaso de Além-Túmulo. Esse ano também marcou a maioridade do médium e foi quando ele afirmou ter tido o primeiro encontro com seu mentor espiritual Emmanuel. Xavier dizia que o mentor o informa sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros.
Ao publicar suas primeiras obras, passou a assinar com o nome paterno de Francisco Cândido Xavier.
Em 1932, foi publicado o Parnaso de Além-Túmulo pela Federação Espírita Brasileira (FEB); a obra é uma coletânea de poesias atribuídas a espíritos de poetas brasileiros e portugueses.
Continuou com o seu emprego na Fazenda, iniciado em 1935, e a exercer as suas funções no Centro Espírita Luiz Gonzaga, atendendo aos necessitados com receitas, conselhos e psicografando. O administrador da fazenda era o engenheiro agrônomo Rômulo Joviano, também espírita, que além de conseguir o emprego para Xavier, o ajudava a ter a paz necessária para os trabalhos de psicografia, acompanhando-o nas sessões do Centro Luiz Gonzaga, do qual se tornaria presidente. Foi justamente no período em que psicografava nos porões da casa de Joviano que foi escrita uma de suas maiores obras, intitulada Paulo e Estêvão.
Paralelamente, iniciou uma longa série de recusas de presentes e distinções, que perdurará por toda a vida, como por exemplo a de Fred Figner, o grande empresário, que lhe legou vultosa soma em testamento, repassada pelo médium à Federação Espírita Brasileira para uso caritativo. Fred Figner possuía uma coluna de jornal sobre Espiritismo, se correspondeu por mais de 17 anos com Chico Xavier. Um ano após o falecimento de Figner, Chico Xavier psicografa o livro “Voltei”, assinado pelo espírito de “Irmão Jacob”, que seria o próprio espírito de Figner. Este livro é considerado de grande relevância, por conter importantes relatos e recomendações aos seguidores da religião.
Na década de 1930, destacaram-se ainda a publicação dos romances atribuídos a Emmanuel e da obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, atribuída ao espírito de Humberto de Campos, onde a história do Brasil é interpretada por uma óptica espiritual e teológica.
Nessa época, Francisco ingressou no serviço público federal, como auxiliar de serviço no Ministério da Agricultura.
Em 1943, vem a público um dos livros mais populares da literatura espírita, o romance Nosso Lar, o mais vendido da extensa obra do médium. Em 2010 se tornou um filme e já havia vendido mais de dois milhões de exemplares.
Em 1944, os repórteres David Nasser e Jean Manzon fizeram uma reportagem não muito simpática sobre o médium, a qual foi publicada em O Cruzeiro. Os repórteres se fingiram de estrangeiros e usaram nomes falsos para testarem se Xavier era um farsante; porém, quando Nasser e Manzon chegaram em casa após a reportagem, tiveram uma surpresa, como relatou Nasser numa entrevista à TV Cultura em 1980: “De madrugada, o Manzon me telefonou e disse: ‘Você já viu o livro que o Chico Xavier nos deu?’. Falei que não. ‘Então veja’, ele falou. Fui na minha biblioteca, peguei o livro e estava escrito exatamente isso: ‘Ao meu irmão David Nasser, de Emmanuel.’ Ao Manzon ele havia feito uma dedicatória semelhante.
Em 1955, Chico Xavier conheceu pessoalmente o médium Waldo Vieira, o que resultou em uma parceria espírita — que durou até 1966 — na qual psicografaram 17 livros em conjunto.
Em 1965, Chico Xavier e Waldo Vieira viajaram para Washington, EUA, a fim de divulgar o espiritismo no exterior. Com a ajuda de Salim Salomão Haddad, presidente do centro Christian Spirit Center, e sua esposa Phillis, estudaram inglês e lançaram o livro Ideal Espírita, com o nome de The World of The Spirits.
No início da década de 1970, Xavier participou de programas de televisão que tiveram grande repercussão. Sua entrevista ao vivo cedida ao programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, em 28 de julho de 1971 (começando na noite do dia anterior), atingiu 35 pontos de audiência e foi reprisada três vezes em São Paulo e retransmitida para todo o Brasil, além de uma edição extra no Diário de S. Paulo, com a íntegra do programa. O programa se estendeu consideravelmente. O apresentador comentava diversas vezes durante o programa que o fim estava próximo, mas o programa continuava. Neste dia, Chico contou o famoso Caso do Avião: em um voo de Uberaba a Belo Horizonte, o avião passou por fortes turbulências e todos começaram a orar e gritar muito, o que Xavier também fez. Então, Emmanuel entra no avião e, após um pequeno diálogo, censura Xavier pela sua falta de fé: “Cala a boca e morra com educação para não afligir a cabeça dos outros com os seus gritos, morra com fé em Deus!”. Ao fim do programa, Xavier psicografou um poema de autoria atribuída a Ciro Costa, chamado Segundo Milênio. Segundo Herculano Pires, alguns familiares de Ciro Costa assistiam ao programa, e atestam a presença do estilo do poeta.
O sucesso do primeiro programa levou a uma segunda edição, em 21 de dezembro de 1971, começando na noite do dia anterior, também com grande repercussão. Atingiu 86% de IBOPE, segundo o então entrevistador Saulo Gomes, o que foi alegado como um recorde de audiência na televisão brasileira. Nesta edição do programa, diante da pergunta do entrevistador sobre “o que pensam os chamados benfeitores espirituais quanto à posição do Brasil atual, seja no terreno político ou social”, Chico Xavier respondeu que “a posição atual do Brasil é das mais dignas e mais encorajadoras para nós”, explicando que “a nossa democracia está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias ligadas à desagregação”. Além disso, também enfatizou a importância da oração e vigilância; o “dom da liberdade em Jesus Cristo” e o estado de conflito do país. Ao fim do segundo programa, Xavier psicografou um poema de autoria atribuída a Castro Alves, chamado Brasil. Nas duas ocorrências do Pinga-Fogo, Xavier respondeu, alegadamente sob a inspiração direta de Emmanuel, a várias perguntas de jornalistas e da plateia sobre temas como mediunidade, psicografia, vida em outros planetas, reencarnação, aborto, cremação, homossexualidade, umbanda, morte, evolução, vegetarianismo, salvação, transplante de órgãos, milagres, movimento hippie, divórcio, e vários outros.
Nessa década, além da catarata e dos problemas de pulmões, passou a sofrer de angina. Em 1975, desligou-se do centro espírita Comunhão Espírita Cristã e fundou um novo em Uberaba, o Grupo Espírita da Prece, onde passou a exercer suas atividades. Em 1980 já havia duas mil instituições de caridade fundadas, ajudadas ou mantidas graças aos direitos autorais dos seus livros psicografados ou a campanhas beneficentes promovidas por ele.
Em 1980, foi proposto para se candidatar ao Prêmio Nobel da Paz, concorrendo com vultos da época, como João Paulo II, e pelo líder sindicalista Lech Wałęsa (polonês como João Paulo II). Pelo extenso trabalho social exercido pelo médium mineiro, achavam certa sua vitória, já que Madre Teresa de Calcutá, com um trabalho menos vultoso, fora premiada no ano anterior. Mas nenhum destes ganhou — uma instituição da ONU levou o Nobel naquele ano.
No ano de 1994, o tabloide norte-americano National Examiner publicou uma matéria em que, no título, declarava que “Fantasmas escritores fazem romancista milionário”. A matéria foi divulgada no Brasil com destaque pela hoje extinta revista Manchete, com o título de Secretário dos Fantasmas, onde se declarava que, segundo informava a National Examiner, o médium brasileiro ficou milionário, havendo ganho 20 milhões de dólares como “secretário de fantasmas”.
A revista Manchete continuava: “Segundo o jornal, ele é o primeiro a admitir que os 380 livros que lançou são de ‘ghostwriters’, mas ‘ghosts’ mesmo, em sentido literal. É que Chico simplesmente transcreve as obras psicografadas de mais de 500 escritores e poetas mortos”.
O médium não respondeu, mas a Federação Espírita Brasileira, por seu então presidente Juvanir Borges de Souza, editora de boa parte das obras de Chico Xavier, enviou uma carta à revista em que informava utilizar os direitos autorais e a remuneração pelas obras de Francisco Cândido Xavier para uso da caridade, o mesmo se passando com outras editoras, ressaltando que “os direitos autorais são cedidos gratuitamente, visando a tornar o livro espírita bastante acessível e a contribuir, destarte, para a difusão da Doutrina Espírita”.
O mesmo presidente da FEB, por ocasião do I Congresso Espírita Mundial, apresentou uma “moção de reconhecimento e de agradecimento ao médium Francisco Cândido Xavier”, aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB. No documento, as entidades representativas do espiritismo no Brasil devotavam a sua gratidão e respeito ao médium.
Morte
O médium morreu aos 92 anos de idade, em decorrência de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano de 2002. Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Xavier dizia que iria desencarnar em um dia em que os brasileiros estivessem muito felizes e em que o país estivesse em festa, para assim o desencarne dele não causar tristeza: no dia de sua morte, o país comemorava a conquista da Copa do Mundo.
O então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, emitiu nota sobre a morte do médium: “Grande líder espiritual e figura querida e admirada pelo Brasil inteiro, Chico Xavier deixou sua marca no coração de todos os brasileiros, que ao longo de décadas aprenderam a respeitar seu permanente compromisso com o bem estar do próximo”. O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, decretou luto oficial de três dias no Estado e declarou: “Chico Xavier expressava em sua face uma imensa bondade, reflexo de sua alma iluminada, que transparecia, particularmente, em sua dedicação aos pobres, imagem que vou guardar para sempre, com muito carinho”.
Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, 120.000 pessoas compareceram ao velório do médium, que aconteceu em Uberaba nos dias 1º e 2 de julho. Em um caminhão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais, o caixão com o corpo do médium percorreu cinco quilômetros até chegar ao Cemitério São João Batista, na mesma cidade, com mais de 30 mil pessoas a acompanhar o cortejo a pé. Quando o caixão chegou ao cemitério, foi recebido com uma chuva de pétalas de 3 mil rosas lançadas em profusão de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.
Os centros espíritas fundados por Chico Xavier, Grupo Espírita da Prece e Comunhão Espírita Cristã em Uberaba, e Centro Espírita Luiz Gonzaga em Pedro Leopoldo, continuam funcionando e realizando muitas assistências de caridade.
Em 2014, o Ministério Público Federal de Uberaba firmou um acordo com o filho adotivo do médium Chico Xavier, Eurípedes Higino, que prevê a proteção e catalogação do acervo do médium.
Fontes: www.100anoschicoxavier.com.br & wikipedia