BACC TRAVEL

O deputado eleito George Santos,34, filho de uma brasileira e um americano, enfrenta uma enxurrada de perguntas, bem como um futuro incerto, depois que um artigo publicado pelo jornal The New York Times revelou que ele pode ter deturpado partes importantes do seu currículo durante a campanha e inventando outras histórias sobre sua vida e carreira professional.

A reportagem do Times descobriu que Santos, um republicano cuja vitória em Long Island e no nordeste do Queens no mês passado ajudou seu partido a conquistar uma estreita maioria na Câmara dos Deputados, pode ter enganado os eleitores sobre sua formação acadêmica e sua suposta carreira em Wall Street e omitiu detalhes sobre seus negócios nos formulários de divulgação financeira.

Santos recusou vários pedidos de entrevista pela publicação. Na noite de segunda-feira, ele usou o Twitter para divulgar uma breve declaração do seu advogado, Joseph Murray, que caracterizou o artigo do Times como uma “explosão de ataques” com “alegações difamatórias”.

A campanha de Santos para a Câmara dos Deputados exaltou uma biografia de conto de fadas: ele é filho de imigrante brasileiro e o primeiro republicano abertamente gay a ganhar uma cadeira na Câmara. Ele saiu de uma faculdade pública da cidade de Nova York, o Baruch College, para se tornar um “financista e investidor experiente de Wall Street” com um portfólio imobiliário familiar de 13 propriedades e uma instituição de caridade de resgate de animais que salvou mais de 2.500 cães e gatos.

Mas a investigação do New York Times que examinou documentos públicos e processos judiciais nos Estados Unidos e no Brasil, bem como várias tentativas de verificar as alegações que Santos fez durante a campanha, questionam partes importantes do currículo que ele vendeu aos eleitores.

O Citigroup e o Goldman Sachs, as firmas de destaque de Wall Street que se encontram na biografia da campanha de Santos, disseram ao Times que não têm registro de que ele trabalhou lá. Funcionários do Baruch College, onde Santos disse ter se formado em 2010, não conseguiram encontrar nenhum registro de alguém com esse nome e data de nascimento se formando naquele ano.

Também há poucas evidências de que seu grupo de resgate de animais, Friends of Pets United, é, como afirmou Santos, uma organização isenta de impostos: a Receita Federal não conseguiu localizar nenhum registro de uma instituição de caridade registrada com esse nome.

Seus formulários de divulgação financeira sugerem uma vida com alguma riqueza. Ele emprestou à sua campanha mais de $700.000 durante a eleição de meio de mandato, doou milhares de dólares a outros candidatos nos últimos dois anos e relatou um salário de $750.000 e mais de $1 milhão de dividendos pagos pela sua empresa, a Devolder Organization.

No entanto, a empresa, que não tem site público ou página no LinkedIn, é um mistério. Em um site de campanha, Santos certa vez descreveu a Devolder como a “empresa de sua família” que administrava US$ 80 milhões em ativos. Em sua divulgação financeira no Congresso, ele a descreveu como uma empresa de consultoria de introdução de capital, um tipo de empresa boutique que serve como elo entre fundos de investimento e investidores com muito dinheiro. Mas a divulgação de Santos não revelou o nome de nenhum cliente, uma omissão que especialistas em direito eleitoral disseram que pode ser problemática.

E embora Santos tenha descrito uma fortuna familiar no setor imobiliário, ele não revelou, nem o Times conseguiu encontrar registros de suas propriedades.

Outras histórias que chamam atenção

Registros mostram que a mãe de Santos, que morreu em 2016, morou por um tempo na cidade brasileira de Niterói, subúrbio do Rio, onde trabalhava como enfermeira. Depois que Santos obteve um diploma de equivalência do ensino médio, ele aparentemente também passou algum tempo lá.

Em 2008, quando Santos tinha 19 anos, ele roubou o talão de cheques de um homem de quem sua mãe cuidava, de acordo com registros judiciais brasileiros descobertos pelo Times. Registros policiais e judiciais mostram que Santos usou o talão de cheques para fazer compras incluindo um par de sapatos. Dois anos depois, ele confessou o crime e foi posteriormente indiciado. Promotores no Brasil confirmaram que o caso continua sem solução, já que Santos não respondeu a uma intimação oficial, e um representante do tribunal não conseguiu encontrá-lo em seu endereço.

Esse período no Brasil coincide com o período em que Santos disse que estava cursando o Baruch College.

Em sua biografia de campanha, santos também afirma que sua vida profissional se cruzou com uma tragédia: ele disse em entrevista ao WNYC que sua empresa “perdeu quatro funcionários” no tiroteio na boate Pulse em Orlando em junho de 2016. Mas uma pesquisa do Times descobriu que nenhuma das 49 vítimas parece ter trabalhado nas várias empresas mencionadas em sua biografia.

Especialistas em ética observaram que as divulgações de campanha de Santos revelaram pouco sobre a origem de sua fortuna, em particular ele não menciona o nome de nenhum cliente que pagou mais de US$ 5.000 à sua empresa, a Devolder Organization. Tal omissão pode ser problemática se ficar claro que ele intencionalmente evitou revelar sua clientela.

Existem vários caminhos pelos quais uma investigação ética poderia ocorrer na Câmara dos Deputados, mas nenhum provavelmente afetaria a capacidade de Santos de assumir o cargo em janeiro.

Qualquer processo exigiria cooperação bipartidária e provavelmente seria demorado. Há também a questão de saber se a Câmara reivindicaria jurisdição sobre o comportamento ocorrido antes de o legislador assumir o cargo, embora algumas ações recentes sugiram que eles podem estar inclinados a adotar uma abordagem mais expansiva, se o comportamento estiver relacionado à campanha.

Mas o Times faz uma ressalva em seu artigo de que, com uma maioria estreita, os republicanos têm poucos motivos para investigar Santos. Se o futuro deputado renunciar, não há garantia de que um republicano venceria uma eleição especial para ocupar seu cargo. E assim, seria uma cadeira a menos para os republicanos na Câmara.

Fonte: The New York Times

 

Deixe um comentário

The Brasilians