Em Washington, a sede da US Agency for International Development (USAID) foi fechada na segunda-feira (3), com funcionários sendo informados por e-mail para permanecerem em casa.

A agência de ajuda internacional é alvo dos esforço de Trump e Elon Musk de reformar o governo federal. Trump e seus aliados disseram que a agência, criada pelo Congresso como um órgão independente, é abertamente partidária. Os democratas rejeitaram essa afirmação e dizem que Trump não tem autoridade para desmantelar a agência.

Trump afirmou seu desdém pela agência e sua missão de fornecer ajuda estrangeira durante uma sessão de perguntas e respostas com repórteres no domingo à noite (2).

“Ela tem sido administrada por um bando de lunáticos radicais, e nós estamos tirando-os de lá”.

Funcionários da USAID, a maioria dos quais são funcionários públicos de carreira, receberam um e-mail pouco depois da meia-noite informando que não deveriam comparecer ao escritório em Washington, de acordo com diversas fontes familiarizadas com o assunto.

Milhares de prestadores de serviços pessoais e servidores públicos perderam o acesso aos sistemas de e-mail da USAID da noite para o dia.

O caos repentino deixou os funcionários lutando para obter respostas, pois não obtiveram nenhuma informação, segundo as autoridades. Os prestadores de serviços, que viajam com passaportes diplomáticos e falam em nome da agência, precisam receber um aviso prévio de 15 dias antes de uma rescisão de contrato, mas isso não aconteceu.

O Department of Government Efficiency (DOGE), sob liderança de Elon Musk, queriam obter acesso aos sistemas de segurança da USAID e arquivos pessoais, disseram três fontes, o que eventualmente aconteceu.

“Fomos oficialmente informados de que o Departamento de Estado dos EUA agora tem acesso a todos os nossos documentos internos e a todo o nosso conjunto de arquivos, documentos, tudo — todos os nossos sistemas”, disse um funcionário da USAID.

Funcionários democratas do Congresso protestaram contra o esforço de Trump para dissolver a USAID.

“Esta é uma prerrogativa clara do Congresso para criar, dissolver agências, não o executivo, e você não pode simplesmente desfazer por (ordem executiva) algo que está no estatuto”, disse um deles à CNN.

“Havia uma justificativa para criar a AID, a agência de desenvolvimento, como sua própria agência independente. Porque é sua própria especialidade ou área especializada de trabalho”, explicou outro. “É uma grande área de trabalho que realmente exige seu próprio tipo de liderança e processos e não está relacionada apenas à questão da segurança nacional de qualquer momento específico, mas é fundamental para construir relacionamentos e capacidade de longo prazo em áreas, como a saúde global, que protege os americanos.”

O que é a USAID? 

Em um esforço liderado pelo então presidente John F Kennedy, a USAID foi estabelecida como parte do Foreign Assistance Act de 1961.

De acordo com o site oficial do governo dos EUA, a USAID é a “principal agência dos EUA para estender assistência a países se recuperando de desastres, tentando escapar da pobreza e se engajando em reformas democráticas”.

No ano fiscal de 2023, os EUA desembolsaram US$ 72 bilhões em assistência para todo o mundo, cobrindo áreas desde saúde das mulheres em zonas de conflito até o acesso à água limpa, tratamentos para HIV/AIDS, segurança energética e trabalho anticorrupção.

A USAID forneceu 42% de toda a ajuda humanitária rastreada pelas Nações Unidas em 2024 e tem uma equipe de mais de 10 mil pessoas em campo.

Quais países receberam mais ajuda?

Em 2023, a Ucrânia recebeu mais — US$ 14,4 bilhões da USAID.

O segundo maior beneficiário, a Jordânia, recebeu US$ 770 milhões em ajuda econômica por meio da USAID. Iêmen e Afeganistão receberam US$ 359,9 milhões e US$ 332 milhões, respectivamente.

A USAID não é a única agência dos EUA que desembolsa ajuda externa, mas é a maior, com uma verba de US$ 42,45 bilhões, seguida pelo Departamento de Estado (US$ 19 bilhões).

Quais críticas a USAID recebe?

As críticas à agência variam de sua agenda de política externa à sua ineficiência.

Em 2014, a USAID foi acusada de criar secretamente um “Twitter cubano” chamado ZunZuneo para minar o governo cubano. Também foi criticada por sua natureza clandestina.

Em 2023, o presidente do México pediu a Joe Biden, que impedisse a USAID de financiar grupos hostis ao seu governo, de acordo com uma carta apresentada a jornalistas, ecoando críticas mexicanas anteriores ao intervencionismo dos EUA.

O então presidente Andres Manuel Lopez Obrador não especificou quais grupos mexicanos os EUA deveriam parar de financiar, mas ele acusou várias organizações de mídia de fazerem parte de um movimento conservador contra seu governo.

“O governo dos EUA, especificamente por meio da USAID, vem financiando organizações abertamente contra o governo legal e legítimo que represento há algum tempo”, disse ele na carta. “Este é claramente um ato intervencionista, contrário ao direito internacional e às relações que devem prevalecer entre estados livres e soberanos.”

Quanto ao Futuro?

Por enquanto, Trump não fez nenhum anúncio oficial de que a USAID será fechada.

No entanto, muitos temem que o fim da ajuda dos EUA possa prejudicar aliados de Washington — e criar um vácuo que seus inimigos poderiam alegremente tentar preencher.

A Europa Oriental, por exemplo, tem sido um antigo campo de batalha geopolítico onde os interesses da política externa ocidental frequentemente colidem com os de Moscou ou Pequim.

A influência da China na América Latina e na África Subsaariana tem crescido, e ela vem se tornando uma parceira comercial e investidora cada vez mais importante nos últimos anos, enquanto os EUA cortam a ajuda.

Em outubro, o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) anunciou que havia fornecido cerca de US$ 160 bilhões para ajudar a financiar centenas de projetos em toda a América Latina. A África Subsaariana recebeu a maior ajuda dos EUA em 2023, mas a China está aumentando sua presença lá ao fornecer assistência competitiva.

Um eventual fechamento da USAID cria ainda mais espaço para a China expandir seu poder.

Fontes: CNN and Al Jazeera

Deixe um comentário

The Brasilians