Cirurgiões de Boston, liderados pelo médico brasileiro Dr. Leonardo V. Riella, Diretor Médico de Transplantes de Rim do Massachusetts General Hospital, transplantaram um rim de um porco geneticamente modificado para um homem doente de 62 anos, no primeiro procedimento desse tipo. Se for bem-sucedida, a descoberta oferecerá esperança a centenas de milhares de americanos cujos rins não funcionam.
Até agora, os sinais são promissores.
O novo rim começou a produzir urina logo após a cirurgia no fim de semana passado e a condição do paciente continua melhorando, segundo médicos do Massachusetts General Hospital, conhecido como Mass General. Ele já percorre os corredores do hospital e pode receber alta em breve.
Se os rins de animais geneticamente modificados puderem ser transplantados em larga escala, a diálise “se tornará obsoleta”, disse o Dr. Riella, ao The New York Times.
Mais de 550.000 americanos têm insuficiência renal e necessitam de diálise, um procedimento que filtra as toxinas do sangue. Mais de 100 mil estão em lista de espera para receber um rim transplantado de um doador humano vivo ou morto. A doença renal em estágio terminal é três vezes mais comum entre os negros americanos do que entre os brancos.
Além disso, dezenas de milhões de americanos têm doença renal crónica, que pode levar à falência de órgãos.
Embora a diálise mantenha as pessoas vivas, o tratamento “ouro” é o transplante de órgãos. Milhares de pacientes morrem anualmente enquanto esperam por um rim, porque há uma escassez aguda de órgãos. Apenas 25 mil transplantes renais são realizados a cada ano.
O xenotransplante – a implantação de um órgão de um animal num ser humano – tem sido proposto há décadas como uma solução potencial que poderia tornar os rins muito mais amplamente disponíveis. Mas o sistema imunitário humano rejeita tecidos estranhos, causando complicações potencialmente fatais, e os especialistas observam que a rejeição a longo prazo pode ocorrer mesmo quando os dadores são bem compatíveis.
Nos últimos anos, os avanços científicos, incluindo a edição genética e a clonagem, aproximaram os xenotransplantes da realidade, tornando possível modificar genes animais para tornar os órgãos mais compatíveis e menos propensos a serem rejeitados pelo sistema imunológico humano.
O rim veio de um porco desenvolvido pela empresa de biotecnologia eGenesis, que removeu três genes envolvidos na possível rejeição do órgão. Além disso, sete genes humanos foram inseridos para aumentar a compatibilidade humana. Os porcos carregam retrovírus que podem infectar humanos, e a empresa também inativou os patógenos.
Contudo, a cirurgia já recebeu críticas. O xenotransplante levanta a perspectiva de uma exploração ainda maior dos animais e pode introduzir novos agentes patogénicos nas populações humanas, disse Kathy Guillermo, vice-presidente sénior da People for the Ethical Treatment of Animals, ao The New York Times.
Fonte: The New York Times