Elis Regina

Foi uma das maiores vozes e intérpretes da história do Brasil. Apelidada como Pimentinha, tinha o sorriso como marca registrada.

Elis Regina Carvalho Costa nasceu em 17 de março de 1945. Filha de Romeu de Oliveira Costa e de Ercy Carvalho, Elis Regina nasceu em Porto Alegre, RS.

Segundo Elis seu nome tem origem no nome de uma personagem de um romance que sua mãe lia na época de seu nascimento: “Miss Elis”. Seu apelido dentro de casa era “Lilica” e, quando tinha sete anos de idade, nasceu seu irmão Rogério. Elis estudou o curso normal no Instituto de Educação General Flores da Cunha. Estudou também no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e terminou seus estudos no Instituto Estadual Dom Diogo de Sousa.

Foi muito precoce na música: consta que aos três anos de idade já falava cantando. Nos anos seguintes, começou a aprender os sambas-canção que tocavam no rádio da época. Aos sete anos, sua mãe a levou à Rádio Farroupilha para participar de um programa de rádio chamado Clube do Guri, apresentado pelo radialista Ari Rego. Antes mesmo do ensaio, a menina entrou em pânico e pediu para voltar para casa. Ela só iria voltar ao programa em 1957, aos doze anos, quando finalmente controlou seu nervosismo e conseguiu cantar. A impressão causada foi tão boa que Elis foi convidada para voltar ao programa nos dias seguintes e passou a fazer parte das crianças que se apresentavam regularmente, de modo amador, sem cachê.

Carreira – Fase Gaúcha

Com 13 anos, iniciou a sua carreira profissional, contratada por Maurício Sirotsky Sobrinho para a Rádio Gaúcha, passando a ser chamada de “a estrelinha da Rádio Gaúcha”. Nesse mesmo ano, foi eleita a “Melhor Cantora do Rádio Gaúcho” de 1958, em concurso realizado pela Revista de TV, Cinema, Teatro, Televisão e Artes, com apoio da sucursal gaúcha da Revista do Rádio, do Rio de Janeiro. Além da sua atuação profissional em rádio – e na TV Gaúcha a partir de 1962 – Elis Regina também cantava em boates atuando como “crooner” nos chamados “conjuntos melódicos” de Porto Alegre, como o de Norberto Baldauf e o Flamboyant.

Em 1961, Wilson Rodrigues Poso, gerente comercial do selo Continental, estava de passagem por Porto Alegre quando foi avisado por Glênio Reis, que a rádio em que ele trabalhava contava com um novo talento que o deixaria abismado. Wilson ofereceu um contrato padrão para dois discos aos pais de Elis: sem cachê, mas com divisão dos resultados das vendas. O diretor artístico do selo Continental, depois de ouvir-la cantar, disse que ela precisava trocar de repertório. A moda era cantar rocks, como Celly Campello. Logo, Carlos Imperial – então radialista de programas de rock – foi chamado para produzir o álbum de estreia da cantora. Assim, naquele ano, gravou o seu primeiro disco, “Viva a Brotolândia”. Apesar da divulgação a venda foi decepcionante. No ano seguinte, a gravadora resolveu trocar o produtor e novamente modificar o repertório que agora passaria a interpretar boleros. Então, saiu o seu segundo disco, “Poema de Amor”, e as vendas continuaram decepcionantes. Então, em 1963, uma nova gravadora foi procurar a família. Dessa vez era a Discos CBS. Foi proposto um contrato muito parecido com o primeiro: dois discos que seriam lançados naquele ano, sem cachê. Para os dois novos discos, o produtor resolveu tentar transformá-la em uma cantora de sambas. Assim, foram lançados “Ellis Regina” e “O Bem do Amor”. No final de 1963, Airton dos Anjos arranjou a sua participação em um show coletivo no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis. Armando Pittigliani, produtor do maior selo do país foi ao show e escutou Elis. O produtor, durante o intervalo, foi aos bastidores falar com ela. Perguntou-lhe porque ela cantava aquelas versões e não música brasileira e a convenceu a cantar “Chão de Estrelas” no final do show. A cantora contou a sua família e seu pai decidiu mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro.

O Início No Rio

Elis chegou ao Rio exatamente no dia no dia do golpe de 1964. Com sua experiência em rádio, Elis conseguiu rapidamente um emprego na TV Rio para participar dos programas Noites de Gala e A Escolinha do Edinho Gordo através do diretor musical da Tv, Cícero de Carvalho, quem a encaminhou a estes programas.

Ainda no primeiro semestre de 1964, Elis fez um teste para ser a cantora na gravação em disco do espetáculo Pobre Menina Rica, composto por canções de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. No teste Tom Jobin não aprovou a cantora.

O Beco Das Garrafas

As aparições de Elis na TV Rio dariam retorno à cantora. Foi assim que Elis foi ouvida pelos produtores e jornalistas Renato Sérgio e Roberto Jorge. Eles foram os produtores do primeiro show de Elis no Rio, que aconteceu no Bottle’s, uma boate no Beco das Garrafas. No espetáculo ela cantaria samba jazz, acompanhada pelo Copa Trio – formado por Dom Salvador, no piano; Miguel Gusmão, no contrabaixo; e Dom Um Romão, na bateria, e com uma música de abertura feita por Edu Lobo. Entretanto, nos ensaios, eles perceberam que Elis tinha um grave problema de presença de palco. Para resolver este problema, recrutaram a ajuda de Lennie Dale, coreógrafo. Foi com ele que Elis aprendeu a mexer os braços como se estivesse nadando no ar, ou como as hélices de um helicóptero.

Assim, estreou Elis com o show chamado “Sosifor Agora” que foi um sucesso de público, embora a capacidade do bar não fosse muito grande. No 5º final de semana foi encerrada a temporada no Bottle’s. O fim da temporada naquele bar abriu a oportunidade para os produtores de shows no bar vizinho – o Little Club – contratarem Elis para um show lá. Miele e Bôscoli produziram, na sequência, um novo show para Elis no Beco. Em agosto daquele ano fez um tempotrada de shows na boate Djalma’s, de Djalma Ferreira e convidada para participar do show Boa Bossa, promovido pela Associação de Moças da Colônia Sírio-libanesa no então Teatro Paramount. Na sequência, participa do show “Primavera Eduardo É Festival de Bossa Nova”, no Teatro de Arena e teve produção de seu então namorado, Solano Ribeiro. Depois participou do espetáculo “O Remédio É Bossa”, produzido por Walter para os estudantes da Escola Paulista de Medicina. O último show foi o Primeiro Denti-Samba na Faculdade de Odontologia da USP. Com essa guinada paulistana que sua carreira estava dando, em fevereiro de 1965 Elis muda-se para a capital paulista.

A Era Dos Festivais

Em 1965, interpretou a canção Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, que venceu o I Festival de Música Popular Brasileira na TV Excelsior, na ocasião também foi premiada com o troféu Berimbau de Ouro de melhor intérprete. Nesta época, compõe sua primeira e única música – “Triste Amor Que Vai Morrer” – em parceria com o jornalista e radialista Walter Silva e que seria gravada, de forma instrumental, apenas por Toquinho, em 1966.

Apresentou o programa “O Fino da Bossa”, ao lado de Jair Rodrigues e ficou no ar até 1967 (TV Record, SP).

Sendo uma artista recordista de vendagens pela gravadora Philips cantou no Mercado Internacional de Discos e Edições Musicais, em Cannes, em janeiro de 1968, quando começou a direcionar sua carreira para o reconhecimento também no exterior. Em 1969 gravou e lançou no exterior dois LPs: um com o gaitista belga Toots Thielemans, em Estocolmo, e Elis in London.

Anos De Glória

Durante os anos 1970, aprimorou constantemente a técnica e domínio vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica parte do melhor da sua geração de músicos. Em 1974, gravou com Antônio Carlos Jobim, o álbum “Elis & Tom” (1974), considerado um dos melhores LP’s da história da música popular brasileira.

Em 1975, com o espetáculo “Falso Brilhante”, que mais tarde originou um disco homônimo, atinge enorme sucesso, ficando mais de um ano em cartaz. Lendário, tornou-se um dos mais bem sucedidos espetáculos da história da música nacional e um marco definitivo da carreira. Ainda teve grande êxito com o espetáculo “Transversal do Tempo,” em 1978; o “Essa Mulher” em 1979; o “Saudades do Brasil”, em 1980, sucesso de crítica e público pela originalidade; e finalmente o último espetáculo, “Trem Azul”, em 1981.

Anos De Chumbo

Elis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, quando músicos foram perseguidos e exilados. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. A popularidade a manteve fora da prisão, mas foi obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.

Elis foi uma voz ativa na campanha pela Anistia de exilados brasileiros. Outra questão importante se refere ao direito dos músicos brasileiros, polêmica que Elis encabeçou, participando de reuniões em Brasília. Além disso, foi presidente da “Assim – Associação de Intérpretes e de Músicos”.

Estilo Musical

O estilo musical interpretado ao longo da carreira percorria o “fino da bossa nova”, firmando-se como uma das maiores referências vocais deste gênero. Aos poucos, o estilo MPB, um hibridismo ainda mais urbano e ‘popularesco’ que a bossa nova, seria mais um estilo explorado. Já no samba consagrou Tiro ao Álvaro e Iracema (Adoniran Barbosa), entre outros. Notabilizou-se pela uniformidade vocal, primazia técnica e uma afinação a toda prova. Seu registro vocal pode ser definido como meio-soprano.

Os trejeitos cênicos que Elis utilizava ao interpretar na década 1960, balançando os braços, renderiam para ela o apelido de “Eliscóptero” ou “Hélice Regina”, dados por Rita Lee, e que se somaram ao “pimentinha”, dado por Vinícius de Moraes, a palavra exprimia a miudeza física e a personalidade explosiva da cantora, que mudava de comportamento em segundos. Um dos grandes admiradores, Milton Nascimento, a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições. Entre os seus álbuns destacam-se: “Ela” (1971), “Elis e Tom” (1974), “Falso Brilhante” (1976), “Essa Mulher” (1979), Saudade do Brasil (1980) e Elis (1980).

Músicas Eternizadas

Em menos de 20 anos de carreira, Elis gravou 31 discos, quando imortalizou diversas canções da música popular brasileira, entre elas: “Águas de Março”, “Como Nossos Pais”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Fascinação”, “Madalena”, “Aprendendo a Jogar”, “Casa no Campo”, “Alô, Alô, Marciano”, “Romaria”, “Upa Neguinho”, “Se Eu Quiser Falar Com Deus”.

Vida Pessoal

Em 1964, Elis namorou rapidamente Edu Lobo antes de conhecer Solano Ribeiro, produtor musical idealizou e produziu o 1º Festival de Música Popular Brasileira, na TV Excelsior.

Elis Regina foi casada com o produtor musical Ronaldo Bôscoli entre 1967 e 1972. Juntos protagonizaram brigas homéricas, geralmente em público. Dessa união nasceu João Marcelo Bôscoli (1970). Entre 1973 e 1981, Elis viveu com o pianista e arranjador musical César Camargo Ma-riano (n. 1943). Juntos tiveram dois filhos: Pedro Camargo Mariano (1975) e Maria Rita (1977).

Morte

Elis morreu na manhã de 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, em circunstâncias trágicas. Sob grande comoção popular, o velório foi realizado no Teatro Bandeirantes, São Paulo.

Depois o cortejo seguiu pelas ruas da cidade em uma viatura do Corpo de Bombeiros levando o corpo da artista até o Cemitério do Morumbi, sendo acompanhado por mais de quinze mil pessoas.

O laudo médico atestou que a mor-te da cantora foi em decorrência “de intoxicação exógena, causada por agente químico – cocaína mais álcool etílico”. Na noite anterior, Elis e seu namorado, o advogado Samuel MacDowell receberam amigos no apartamento dela. Os convidados foram embora por volta das 21h e Samuel ainda permaneceu por mais algumas horas. Pela manhã, ambos falavam por telefone e ele notou que Elis passou a falar com “voz meio pastosa”, balbuciando as palavras, e depois ficou em silêncio. Decidiu ir até o apartamento, a encontrando caída no chão. Depois de aguardar uma ambulância, que demorava a chegar, resolveu chamar um táxi e a levou para o Hospital das Clínicas de São Paulo.

Na biografia “Elis Regina – Nada Será Como Antes”, de Julio Maria, Samuel tentou reavivá-la, mas a demora de mais de uma hora aguardando a ambulância foi decisiva para a morte. No livro, a médica responsável pelo primeiro atendimento declarou que “os sinais mostravam que a cantora havia chegado aos seus cuidados tarde demais”.

O laudo diz ‘mistura de álcool e cocaína’. Se mistura de álcool e cocaína matasse, 80% dos artistas da MPB estariam mortos. Por isso digo que foi acidente. Alguma coisa, que só Deus sabe, deu errado ali.

O laudo da causa da morte foi elaborado por José Luiz Lourenço e Chibly Hadad, sendo o diretor do IML Harry Shibata, médico conhecido por ter assinado o controverso laudo atestando como “suicídio” a causa da morte do jornalista Vladimir Herzog. Essas polêmicas e o fato de Elis não ter histórico de abuso de drogas, levaram familiares da cantora a contestarem o laudo.

O caso foi investigado pelo 4º Departamento da Polícia Civil. Na época, os policiais estranharam a ingestão de cocaína pela boca, porém receberam uma denúncia anônima afirmando que Elis era viciada há cerca de seis meses.

Um mês depois da morte, o promotor pediu o arquivamento do inquérito.

Legado & Homenagens

A 18 de agosto de 1997, foi agraciada, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal.

Em 22 de setembro de 2005, inaugurou-se na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, um espaço memorial para abrigar o Acervo Elis Regina.

Em 2013, foi estreado a peça de teatro Elis, A Musical. Em 2015, Elis Regina foi a grande homenageada da Escola de Samba Vai-Vai, com o enredo “Simplesmente Elis – A Fábula de Uma Voz na Transversal do Tempo”, tendo a escola paulistana ganhado seu 15º título com o enredo.

Em 2016, foi lançado o filme “Elis”, tendo Andreia Horta como intérprete da cantora. Em 2019, foi lançada a minissérie “Elis – Viver é melhor que sonhar”, transmitida pela TV Globo.

Foi inaugurada, em 2009, ao lado do Centro Cultural Usina do Gasômetro uma estátua de bronze da cantora. A obra, produzida pelo artista plástico José Pereira Passos, é apoiada sobre uma base em granito que lembra um LP, adornado com estrelas de metal.

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