A moda é uma indústria em constante mudança e evolução, e muitas vezes o seu padrão cíclico pode trazer de volta tendências e polêmicas do passado que podem ser controversas nos dias de hoje. Essas tendências são resgatadas e reinterpretadas, em um ritmo acelerado. O que é considerado moderno e atual hoje pode rapidamente se tornar obsoleto amanhã.
No entanto o que não esperávamos em 2023, é o retorno de peças de roupa que pareciam ter sido extintas dos guarda-roupas da geração Z. Goste ou não, as calças skinny, cintura baixa e leggings dominaram as passarelas de marcas como Saint Laurent, Hedi Slimane, Gucci, Prada, Blumarine, Diesel e Celine. As peças que exaltam um padrão de beleza inalcançável, das barrigas negativas e pernas ultrafinas, trazem de volta a pressão para pessoas que não se encaixam nesse padrão.
Apesar de se falar muito sobre body positive, parece que em 2023 estamos indo na contramão dessa tendência. O estereótipo excessivamente magro, conhecido como “heroin chic”, que fez sucesso nos anos 90, está de volta. O visual que se caracteriza pela magreza extrema, olhos fundos e uma atitude contraditória, tem origem no movimento grunge e a busca pela imagem de anti-estrela. Além disso, a volta do cigarro como acessório desse visual é preocupante. Depois de duas décadas, a venda de cigarros voltou a crescer em 2020, como reportou o The New York Times.
Para atingir esse “novo velho padrão” celebridades, que são símbolos de beleza mundial, estão utilizando medicamentos para tratamento de diabetes tipo 2, como o Ozempic e o Wegovy, que contêm o princípio ativo semaglutida, para alcançar o corpo “ideal”. O medicamento que age no corpo aumentando a produção de insulina, diminui os níveis de glicose no sangue, provocando uma sensação de saciedade no cérebro. Aprovado no fim de 2022 pela ANVISA para auxiliar no emagrecimento, “ozempic” tem sido um dos tópicos mais procurados no google Trends desde janeiro de 2023. O uso indiscriminado do remedio traz riscos a saúde e ajuda e distorcer normas de beleza até então esquecidas pela sociedade.
Esse movimento, que está longe de ser saudável, deve ser desencorajado, em vez de ser considerado como um ideal de beleza a ser seguido. É fundamental que marcas e designers repensem o quanto a moda influencia todo o comportamento de uma sociedade pós pandêmica, onde a sensação de privação esta mais aguçada do que nunca, e levem em consideração a representatividade e inclusão de diferentes tipos de corpos em suas coleções, para que a moda possa se tornar mais acessível e democrática para todos.
BEATRIZ DIAS
Desenhista Gráfica, Apresentadora de Tv e Fotógrafa
Beatrizgcostadias@gmail.com