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Cora Coralina

“Os elementos folclóricos que faziam parte do cotidiano de Anna serviram de inspiração para que aquela frágil mulher se tornasse a dona de uma voz inigualável e sua poesia atingis-se um nível de qualidade literária jamais alcançado até aí por nenhum outro poeta do Centro-Oeste brasileiro.

Senhora de poderosas palavras, Anna escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras da gramática contribuiu para que sua produção artística priorizasse a mensagem ao invés da forma. Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, e ainda compreender o real papel que deveria representar, Anna parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás, que lhe permitiu a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.”

Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras.

Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.

Cora Coralina, nasceu em Goiás, 20 de agosto de 1889. Era filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão.

Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos, apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries. A mais recuada indicação que se tem de sua vida literária data de 1907, através do semanário ‘A Rosa’.

Ao tempo em que publica essa crônica, ou um pouco antes, Cora Coralina começa a frequentar as tertúlias do “Clube Literário Goiano”, situado em um dos salões do sobrado de Dona Virgínia da Luz Vieira.

Em 1911, foi para o estado de São Paulo com o marido e advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas onde viveu durante 45 anos, inicialmente no município de Jaboticabal onde nasceram seus seis filhos: Paraguaçu, Eneas, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Ísis e Eneas morreram logo depois de nascer.

Cora nunca foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna, informa sua filha Vicência Bretas Tahan.

Em 1924, mudou para São Paulo. Ao chegar à capital, teve de permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade.

Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas na rua Direita com a Praça do Patriarca. Seu filho Cantídio participou da Revolução Constitucionalista de 1932, Cora Coralina também alistou-se como enfermeira e costurando uniformes.

Com a morte do marido, passou a vender livros para a Editora José Olympio, foi também colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo. Posteriormente, mudou-se para Penápolis onde passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, cidade que atualmente, mantém uma casa da cultura com seu nome, onde chegou a escrever para o jornal da cidade. Em 1956, retorna a Goiás.

Ao completar 50 anos, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como “a perda do medo”. Nessa fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos antes. Durante esses anos, Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada. Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias. Lançado pela gravadora Paulinas Comep, o disco ainda pode ser encontrado hoje em formato CD.

Cora Coralina recebeu diversos prêmios: (1980) Homenageada pelo Conselho Nacional das Mulheres do Brasil (Rio de Janeiro – RJ), (1981) Troféu Jaburu, concedido pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás, (1982) Prêmio de Poesia nº 01, Festival Nacional de Mulheres nas Artes (São Paulo – SP), (1983) Doutora Honoris Causa, Universidade Federal de Goiás, (1983) Ordem do Mérito no Trabalho, concedida pelo Presidente da República João Batista de Figueiredo, (1983) Medalha Anhanguera, Governo do Estado de Goiás, (1983) Homenageada pelo Senado Federal, (1984) Grande Prêmio da Crítica/Literatura da Associação Paulista de Críticos de Arte, (1984) Primeira escritora brasileira a receber o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE), (1984) Homenageada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação como símbolo da mulher trabalhadora rural, (1984) Ocupou a cadeira nº 38 da Academia Goiana de Letras, (1999) A obra Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais é eleita pelo jornal O Popular (Goiânia – GO), uma das 20 obras mais importantes do século XX, (2006) Condecorada com a classe Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural (OMC), concedida pelo Ministério da Cultura.

As obras de Cora Coralina são marcadas pelo protagonismo de temas e personagens marginalizados – a feiura dos becos, o menor abandonado, a lavadeira, a mulher da vida, o cotidiano da vivência rural.

É característica de seus versos a estética epilírica ou epiliricodramática, já que o tom marcadamente narrativo da poesia, muito relacionado à tradição oral, evidencia sempre a interferência dos gêneros épico e dramático – vários dos poemas assemelham-se a histórias e causos contados em forma de verso.

A linguagem de seus textos, portanto, é simples, informal e harmoniosa: seu fazer poético evoca a forma coloquial da contação de histórias das pessoas humildes, de pouca instrução, em resgate do conto popular, ora em forma de prosa, ora em forma de poesia.

Em 1965, publicou o primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais. O segundo livro saiu apenas em 1976, intitulado Meu Livro de Cordel. Em 1983, foi lançado Vintém de Cobre – Meias confissões de Aninha. Em 1985, ano de sua morte, publicou Estórias da Casa Velha da Ponte.

A obra de Cora Coralina conta ainda com as seguintes edições póstumas: os livros infantis Meninos Verdes (1986), A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999) e O Prato Azul-Pombinho (2002), e os livros de poesia Tesouro da Casa Velha (1996) e Villa Boa de Goyaz (2001).

Frases

• “Venho do século passado. Pertenço a uma geração ponte, entre a libertação dos escravos e o trabalhador livre. Entre a monarquia caída e a república que se instalava. Todo ranço do passado era presente. A criança não tinha vez, os adultos eram sádicos e aplicavam castigos humilhantes.”

• “A vida é boa. Você pode fazê-la sempre melhor, e o melhor da vida é o trabalho.”

• “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”

• “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

• “Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver.”

• “Coração é terra onde ninguém vê.”

• “Procuro suportar todos os dias minha própria personalidade renovada, despencando dentro de mim tudo que é velho e morto.”

Cora Coralina faleceu em 10 de abril de 1985, em Goiânia, onde estava hospitalizada com forte gripe, que a levou a um quadro de pneumonia, aos 95 anos. O Museu Cora Coralina foi inaugurado em 1989. O museu foi sua casa, que é mantida da mesma forma de quando ela habitava, abriga em seu acervo objetos de uso pessoais como roupas, móveis, utensílios domésticos, fotos, livros e cartas no interior da casa, além do jardim nos fundos da casa e a bica de água potável. O Museu está localizado nas margens do Rio Vermelho na Cidade de Goiás.

Carolina Maria de Jesus

“Carolina Maria de Jesus foi uma escritora mineira nascida em 14 de março de 1914. Apesar de ter apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação de seu livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, no qual relatou o seu dia a dia na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Morreu em 13 de fevereiro de 1977. Hoje é considerada uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira. O seu livro Quarto de despejo traz as memórias de uma mulher negra e favelada (como diz o subtítulo) que via a escrita como forma de sair da invisibilidade social em que se encontrava. Com seus diários, suas memórias registradas por meio da escrita, Carolina Maria de Jesus deu sentido à sua própria história e hoje é figura essencial na literatura brasileira.”

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina cresceu em uma família com mais sete irmãos.

A jovem recebeu o incentivo de uma das freguesas de sua mãe para frequentar a escola. Com sete anos, ingressou no colégio Alan Kardec, onde somente frequentou os dois primeiros anos e apesar de pouco tempo na escola, Carolina logo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita.

Com 23 anos, perdeu sua mãe e foi para a capital, onde empregou-se como faxineira na Santa Casa de Franca.

Mudou-se para a favela do Canindé e durante a noite trabalhava como catadora de papel. Em meio a toda essa difícil realidade, havia os livros. Carolina Maria de Jesus era apaixonada pela leitura. Lia tudo que recolhia e guadava as revistas que encontrava. A escrita literária, portanto, foi uma consequência. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia.

Em 1941 foi até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas. No dia 24 de fevereiro, o seu poema e a sua foto são publicados no jornal.

Carolina continuou levando regularmente os seus poemas para a redação do jornal. Por esse motivo acabou sendo apelidada de “A Poetisa Negra”.

Em 1958, o repórter Audálio Dantas, foi designado para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e lá conheceu Carolina Maria de Jesus.

Carolina lhe mostrou o seu diário, surpreendendo o repórter. Audálio ficou maravilhado com a história daquela mulher.

Em 1958, Audálio publicou parte do do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, que recebeu vários elogios mas somente em 1960, finalmente o livro foi publicado.

Carolina recebe homenagem da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de SP.

Em 1961, a autora viajou para a Argentina onde foi agraciada com a “Orden Caballero Del Tornillo”. Nos anos seguintes, Carolina publicou: “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961), “Pedaços da Fome” (1963), “Provérbios” (1965), Diário de Bitita (1986); Meu estranho diário (1996). Em 1986, quase dez anos depois de seu falecimento, sua obra póstuma, Diário de Bitita, foi publicada no Brasil. No entanto, esse livro já tinha sido publicado, no ano de 1982, em Paris, com o título: Journal de Bitita.

Foi em 1994 que o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine, foi publicado e gerou um novo interesse pela escritora. No ano seguinte, os mesmos autores lançaram, nos Estados Unidos, o livro The life and death of Carolina Maria de Jesus. Além disso, eles organizaram os livros Meu estranho diário e Antologia pessoal, compostos por textos deixados pela autora e publicados em 1996.

O livro “Quarto de despejo” foi traduzido para vários idiomas. Atualmente, cerca de 40 países conhecem essa obra. Carolina Maria de Jesus virou nome de rua e de biblioteca, teve livros produzidos sobre ela e muitas dissertações e teses acadêmicas foram escritas, principalmente sobre a sua primeira obra. A autora, portanto, conquistou lugar de destaque na literatura brasileira.

Carolina Maria de Jesus é precursora da Literatura Periférica no sentido de que ela é a primeira autora brasileira de fôlego a constituir a tessitura de sua palavra a partir das experiências no espaço da favela, isto é, sua narrativa traz o cotidiano periférico não somente como tema, mas como maneira de olhar a si e a cidade. Por isso, seu olhar torna-se cada vez mais crítico diante do cenário de ilusões que São Paulo projetava com sua falsa imagem de lugar com oportunidades para todos.

Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, dia 13 de fevereiro de 1977.

Conceição Evaristo

“Conceição Evaristo é uma escritora mineira. Suas obras fazem parte da literatura contemporânea brasileira. O livro mais famoso dessa autora é o romance ‘Ponciá Vicêncio’.”

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG). Teve a infância e a adolescência marcadas pela miséria, na extinta favela do Pindura Saia na capital mineira. Trabalhou como babá e faxineira enquanto cursava os estudos secundários, aspirando à carreira de professora, mas quando concluiu o curso normal, não conseguiu emprego em Belo Horizonte. Assim, Conceição mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ e seguiu no magistério.

Sua estreia na literatura aconteceu em 1990, quando seis de seus poemas foram incluídos no volume 13 da coletânea Cadernos Negros, publicação literária periódica que teve início em 1978, com o intuito de veicular a cultura e a produção escrita afro-brasileira.

Conciliando os trabalhos na docência, na literatura e na produção de estudos teóricos, Conceição Evaristo titulou-se como mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, em 1996 e depois como doutora em Literatura Comparada na UFF.

Autora de contos, poemas e romances, parte deles traduzida para o inglês e o francês, além de vasta obra teórica, Conceição Evaristo foi finalista do prêmio Jabuti em 2015 e contemplada, em 2018, com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, sendo reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras da contemporaneidade.

O minucioso trabalho literário de Conceição Evaristo é marcado pelo uso da metalinguagem e da junção de vocábulos que geram novas palavras e novos significados. Sua invenção com a palavra volta-se sempre para a ancestralidade, raiz que recupera o passado e o entrelaça com a projeção ao futuro, fazendo brotar novos significados – lexicais e para além do texto.

Os temas ficcionais e poéticos da autora são diversos, mas a poética de Evaristo é conduzida principalmente pelo eulírico e personagens de mulheres negras. A autora cunhou o termo “escrevivências” para nomear seu procedimento narrativo: misturando invenção e fato. “Escreviver” é contar, a partir de uma realidade particular, uma história que aponta para uma coletividade.

Em 2012, ministrou cursos sobre a “escrevivência de mulheres negras” e “inscrições de afro-brasilidade” no Middlebury College Summer Schools, nos EUA.

Conceição Evaristo recebeu os prêmios: Prêmio Camélia da Liberdade (2007); Prêmio Ori (2007); Prêmio Jabuti (2015).

As obras de Conceição Evaristo fazem parte da literatura contemporânea brasileira e apresentam as seguintes características: protagonismo feminino; realidade e valorização da cultura afro-brasileira; crítica sócio-histórica; caráter memorialístico; prosa lírica; elementos do cotidiano; personagens socialmente marginalizados; temática da injustiça social; questões de gênero e etnia; denúncia de discriminação racial.

Obras: Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Poemas da recordação e outros movimentos (2008), Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos d’água (2014), Histórias de leves enganos e parecenças (2016), Canção para ninar menino grande (2018).

Poemas: Vozes-mulheres, Poemas de recordação e outros movimentos

Frases

• “Conheço mulheres negras cheias de sonhos e de competência que trabalham, trabalham, trabalham e ficam pelo caminho.”

• “A pobreza no Brasil tem cor.”

• “É muito mais fácil para um sujeito branco pobre ascender do que para um sujeito negro pobre.”

• “A sociedade brasileira e as suas instituições são racistas.”

• “O homem negro brasileiro, em determinadas situações, equipara-se ao branco na hora de exercer o machismo.”

• “Homens e mulheres negros estão sempre em situação de suspeição.”

• “O fato de eu ser escritora e ter um doutorado não me deixa imune ao racismo brasileiro.”

Fontes: brasilescola.uol.com.br, ebiografia.com.br, portugues.com.br, mundoeducacao.uol.com.br & wikipedia.

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