O Comitê de Ética da Câmara dos Representantes nos Estados Unidos encontrou “evidências substanciais” de que o deputado George Santos violou a lei federal, levando o republicano, filho de imigrante brasileiro, a declarar nesta quinta-feira (16) que não buscará a reeleição.
Os investigadores da Câmara encontraram evidências de que Santos usou fundos de campanha para fins pessoais, fraudou doadores e apresentou relatórios de financiamento de campanha e divulgação financeira falsos ou incompletos, de acordo com um relatório de 56 páginas divulgado na quinta-feira (16).
A comissão votou por unanimidade para encaminhar as conclusões ao Departamento de Justiça, dizendo que a conduta do Sr. Santos “justifica condenação pública, está abaixo da dignidade do cargo e trouxe grave descrédito à Câmara”.
E embora o painel não tenha recomendado quaisquer medidas punitivas, já havia indicações de que o relatório poderia ser um catalisador para destituir Santos do cargo. Vários membros do Congresso disseram anteriormente que apoiariam a sua expulsão se o comitê descobrisse irregularidades criminais ou uma violação grave da ética.
“A maioria de nós nunca viu nada assim – tão extenso, tão descarado e tão ousado”, disse o deputado Glenn F. Ivey, democrata de Maryland, que faz parte do Comitê de Ética.
Ivey, um ex-promotor federal, disse acreditar que o painel descobriu evidências adicionais que podem ser usadas no processo federal de Santos.
Santos, 35 anos, um republicano que representa partes de Long Island e Queens, já enfrenta indiciamento federal com 23 acusações, inclusive roubo a doadores e falsificação de arquivos de campanha eleitoral.
Santos vem resistindo a apelos para deixar o cargo e se declara inocente.
Entretanto, logo após a divulgação do relatório, Santos anunciou no X, site anteriormente conhecido como Twitter, que não buscaria a reeleição em 2024.
Mesmo assim, ele pareceu discordar das conclusões do painel, escrevendo: “Se houvesse um mínimo de ÉTICA no “Comitê de Ética”, eles não teriam divulgado este relatório tendencioso”.
Após uma investigação de quase nove meses, os investigadores de ética concluíram que Santos “procurou explorar fraudulentamente todos os aspectos da sua candidatura à Câmara para seu próprio lucro financeiro pessoal”, de acordo com o relatório, que afirma que ele sustentou a sua campanha “através de uma constante série de mentiras aos seus eleitores, doadores e funcionários sobre o seu passado e experiência.”
O relatório também detalhou como Santos apresentou inúmeras despesas que não pareciam ter propósito de campanha, desde viagens e estadias em hotéis em Las Vegas que correspondiam ao momento em que ele disse aos funcionários que estava em lua de mel até milhares de dólares em spas. Pelo menos dois pagamentos foram descritos como sendo para Botox.
Uma das partes mais interessantes do relatório diz respeito a uma empresa chamada RedStone Strategies, que Santos usou para arrecadar dinheiro para a campanha.
Os investigadores descobriram que Santos transferiu pelo menos US$ 200.000 para si mesmo da RedStone por meio de inúmeras transações em 2022, algumas das quais foram usadas para pagar cartões de crédito pessoais e fazer compras na Hermes, Sephora e OnlyFans, um site de conteúdo adulto.
As conclusões pareceram minar a estratégia de defesa criminal de Santos. O congressista negou repetidamente envolvimento nas finanças da sua campanha, dizendo que o seu tesoureiro “se tornou desonesto”.
Mas os investigadores descobriram que Santos estava “fortemente envolvido” em questões financeiras, observando que ele recebia relatórios financeiros e faturas semanais e tinha credenciais de login para contas bancárias da campanha.
A tesoureira de Santos, Nancy Marks, se declarou culpada em um indiciamento federal no mês passado, tornando-se a primeira pessoa associada à sua campanha a fazê-lo. O segundo, um assessor de campanha chamado Samuel Miele, se declarou culpado no início desta semana.
O deputado Dan Goldman, democrata de Nova York, disse em comunicado que apresentará uma moção após o Thanksgiving para expulsar Santos da Câmara.
Fonte: The New York Times