O câncer está atingindo mais jovens nos Estados Unidos e em todo o mundo, e deixando os médicos perplexos e alarmados. As taxas de diagnóstico nos EUA aumentaram em 2019 para 107,8 casos por 100 mil pessoas com menos de 50 anos, um aumento de 12,8% em relação aos 95,6 casos em 2000, mostram dados federais. Um estudo publicado no ano passado pelo BMJ Oncology relatou um aumento global acentuado de câncer em pessoas com menos de 50 anos, com as taxas mais elevadas na América do Norte, Austrália e Europa Ocidental.
Médicos estão correndo para descobrir o que está deixando essa geração doente e como identificar os jovens que correm mais risco. Eles suspeitam que as mudanças na forma como vivemos – menos atividade física, mais alimentos ultra processados, novas toxinas – aumentaram o risco para as gerações mais jovens.
A morte do actor Chadwick Boseman, aos 43 anos, vítima de câncer de cólon, em 2020, chamou a atenção do público para a crescente prevalência de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos, uma tendência que alarmou os oncologistas. Eles percebem que a crise se estende a alguns outros tipos de cânceres, incluindo pâncreas, apêndice, estômago e útero.
A notícia boa é que a taxa de mortalidade por câncer nos EUA caiu um terço desde 1991, graças à queda no tabagismo e a melhores tratamentos. O rastreio para detectar câncer mais cedo, incluindo o câncer da mama, também ajudou nessa redução.
Embora o câncer ainda atinja os idosos com muito mais frequência do que os jovens, o aumento do câncer entre os jovens ameaça travar esse progresso. Um em cada cinco novos pacientes com câncer colorretal em 2019 tinha menos de 55 anos, quase o dobro desde 1995. Esses pacientes mais jovens são frequentemente diagnosticados em estágios avançados. As taxas de mortalidade por câncer colorretal entre pacientes com mais de 65 anos estão diminuindo, mas para aqueles com menos de 50 anos estão aumentando.
Mas nem todos os tipos de cânceres estão aumentando entre os jovens. O câncer de mama, o mais comum nos EUA entre pessoas com menos de 50 anos, está aumentando pouco, mas os tumores gastrointestinais são os que aumentam mais rapidamente, mostram estudos.
Na esperança de capturar casos mais cedo, grupos médicos reduziram para 40 a idade recomendada para o início do rastreio do câncer da mama e 45 para o câncer colorretal.
Os médicos estão desesperados para descobrir o que está colocando as pessoas em maior risco. Se eles não descobrirem agora, uma outra geração também vai ter que enfrentar essa doença.
O risco de desenvolver alguns tipos de câncer numa idade jovem aumentou para cada geração nascida desde a década de 1950, sugerem estudos. Um deles descobriu que as pessoas nascidas na década de 1990 correm o dobro do risco de ter câncer de colón e quatro vezes o risco de ter câncer retal, em comparação com as pessoas nascidas por volta de 1950.
O câncer começa com mutações genéticas que estimulam as células a se multiplicarem incontrolavelmente, espalhando-se e formando tumores. Essas mutações acumulam-se à medida que envelhecemos, o que aumenta o risco de câncer. Para a atual geração de jovens, porém, algo está desencadeando essa cascata de produção celular descontrolada mais cedo.
Os pesquisadores estão examinando possíveis causas que vão desde estilos de vida sedentário até presença de determinadas bactérias. Oncologistas descobriram um risco maior de desenvolver câncer colorretal em idade jovem entre mulheres que passam muito tempo sentadas. Beber bebidas açucaradas também está correlacionado com maior risco. Até mesmo o nascimento por cesariana parece vincular outro grupo de mulheres com maior risco de contrair câncer colorretal precocemente.
Alimentos fritos e altamente processados têm sido implicados em outros estudos de câncer colorretal de início precoce, enquanto dietas com fibras, frutas e vegetais provavelmente reduzem os riscos. O câncer colorretal, o da mama e o do pâncreas, têm sido associados à obesidade, e estudos apoiam uma ligação entre o excesso de peso e câncer de início precoce.
Mas os médicos dizem que a obesidade e o estilo de vida sedentário não explicam totalmente a precocidade do câncer já que muitos pacientes chegam às clínicas muito saudáveis.
Alguns médicos suspeitam que as causas do câncer em algumas pessoas podem começar durante a infância, algo que é difícil de rastrear. Ao contrário de quando o tabagismo provocou o aumento das mortes por câncer de pulmão no século XX, os médicos suspeitam que não existe um único agente cancerígeno responsável pelas tendências atuais. Alguns temem que o risco crescente de câncer entre os mais jovens seja um sinal de problemas mais profundos. Será que estamos ficando menos saudáveis?
Fonte: The Wall Street Journal