Pelo terceiro ano consecutivo, o BR Day New York, a maior festa brasileira realizada no exterior, não vai acontecer. Após 34 anos agitando o coração de Manhattan no primeiro domingo de setembro, o evento precisou ser suspenso em 2020 e 2021 por causa da pandemia causada pelo Covid-19. Neste ano, além da pandemia, que ainda não terminou, uma junção de outros fatores levaram os organizadores a cancelarem a festa.
Vale lembrar, contudo, que a tradicional feira de rua vai acontecer. O que foi suspenso foram as apresentações musicais que acontecem no palco montado na Sexta Avenida.
Em entrevista ao The Brasilians, o fundador e presidente do evento, João de Matos, explica quais são os motivos do cancelamento dos shows e fala sobre planos para “o maior evento de todos os tempos” no próximo ano.
The Brasilians: setembro está quase chegando e ainda não tivemos notícias sobre o Br Day NY. O que está acontecendo?
João de Matos: Infelizmente tivemos que cancelar o BR Day mais uma vez. E tivemos que tomar esta triste decisão por vários motivos. Claro que o primeiro deles é a pandemia do Covid-19, que não acabou e ainda está causando muitas mortes e complicações por aí. Para completar estamos vendo que a varíola dos macacos está crescendo rapidamente em Nova York, estando a cidade no epicentro do surto desta nova doença nos Estados Unidos. Sabemos que a varíola dos macacos não é tão transmissível e perigosa quanto o Covid-19, mas é uma doença que se pega por contato próximo. Você sabe, o BR Day é uma festa de rua, que aglomera – como diz o ditado popular “todos juntos e misturados” – mais de 1.5 milhão de pessoas. Nós, organizadores, achamos que é uma imensa irresponsabilidade permitir que uma multidão dessa se reúna sabendo que muitos ali podem ficar doentes seja de uma ou outra coisa.
TB: Se este não foi o único fator que cancelou a festa, o que mais está por trás desta decisão?
JM: Este ano um fator muito peculiar também nos vez repensar nossos planos. Estamos em ano eleitoral no Brasil. Não é segredo para ninguém que esta será umas das eleições mais polarizadas – se não for a mais – da história do País. Com isso, muitas manifestações estão acontecendo, inclusive fora do Brasil. Recentemente, isso aconteceu num evento que reuniu artistas brasileiros no Central Park. Não chegou ao meu conhecimento nenhuma briga física em si, mas o BR Day, pela sua grandiosidade, poderia se tornar cenário para protestos e manifestações que poderiam não resultar em coisa boa.
TB: Mas o BR Day já aconteceu em outros anos eleitorais?
JM: Sim, claro, mas foi o que eu disse, nunca vimos a população tão polarizada e radicalizada, não importa o lado político em que estão. Para você ter uma ideia, foi a primeira vez que a polícia de Nova York veio conversar comigo sobre a possibilidade de haver tumultos no BR Day. Eles estão acompanhando e estão cientes que está havendo muitas demonstrações, sobretudo, aqui na Costa Leste. O BR Day seria um cenário perfeito para isso também, principalmente porque estaríamos há 27 dias das eleições. Este ano seria o caso de colocar um outro tipo de polícia no evento, um time especial para conter possíveis conflitos. Isso nos assustou um pouco. O BR Day é uma festa maravilhosa. Eu me orgulho de dizer que em 34 anos nunca tivemos grandes confusões. A Polícia de Nova York adora trabalhar no BR Day. Eles já me disseram que este é o único evento de rua que todos os oficiais sempre querem trabalhar. A festa sempre foi muito tranquila e completamente voltada para celebrar a cultura brasileira.
TB: A Cidade de Nova York aconselhou a sua equipe a não fazer a festa?
JM: De jeito nenhum. Com exceção do ano de 2020, quando tudo estava fechado, a cidade de Nova York nunca me impediu de fazer a festa. A decisão de suspendê-la foi 100% dos nossos organizadores. Não queremos colocar a nossa comunidade em risco. A segurança dos frequentadores do evento é o mais importante de tudo. Também não queremos ter problemas que manchem a história do BR Day ou que nos impeçam de fazer a festa no futuro.
TB: Então a segurança dos frequentadores, seja por motivos de saúde ou de possíveis manifestações, é o que levou a suspensão da festa?
JM: Sem dúvida! Mas não para por aí. Há questões de logísticas também envolvidas. O BR Day é um evento de grande porte, que envolve muitas pessoas, inclusive muitas vindo do Brasil. Normalmente temos que transportar cerca de 120 pessoas – sempre temos três bandas se apresentando, que somam artistas, técnicos, músicos e familiares – num espaço de dois dias. Com os problemas que as companhias aéreas estão enfrentando, ficaria quase impossível realizar isso nesse pequeno prazo. Tudo isso exige muita organização e planejamento. Mas como planejar em meio a tantos altos e baixos, tantas incertezas que estamos vivendo?
TB: E por falar em futuro, quais são os planos para o próximo ano?
JM: Primeiro, fazer a festa, com certeza! Depois, a maior de todos os tempos. Todo o planejamento deste ano será transferido para o próximo, ou seja, posso dizer então que os preparativos para 2023 já começaram. E como de costume, vem surpresa por aí. Aguardem!!!