BACC TRAVEL

Alberto Santos Dumont foi filho de Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos. Quando Alberto tinha 6 anos, a família foi para São Paulo e lá Santos Dumont começou a dar mostras dos trabalhos aeronáuticos, pois, conforme seus pais, com apenas um ano ele costumava furar balõezinhos de borracha para ver o que tinham dentro.

Até os 10 anos, foi alfabetizado por sua irmã mais velha. Estudou em várias escolas, em várias cidades. Porém, ele não era considerado um aluno notável, ele estudava somente o que tinha interesse e estendeu seus estudos de forma auto-didata na biblioteca de seu pai.

Com apenas sete anos Santos Dumont já guiava os locomóveis da fazenda, e aos doze se divertia como maquinista das locomotivas. Ao observar as máquinas de café ele logo aprendeu que as máquinas oscilatórias desgastavam mais, enquanto as de movimento circular eram mais eficientes.

Alberto viu seu primeiro voo tripulado em São Paulo aos 15 anos quando o aeronauta Stanley Spencer subiu num balão esférico e desceu de paraquedas. Após uma viagem à Paris, Santos Dumont começou a despertar-se para área mecânica, principalmente para o “motor de combustão interna”.

Ao ler as obras do escritor francês Júlio Verne, nasceu em Santos Dumont o desejo de conquistar o ar. Os submarinos, os balões, os transatlânticos e todos os outros meios de transporte que o romancista previu em suas obras exerceram uma profunda impressão na mente do rapaz.

Desde então, o jovem sonhador não parou mais de buscar alternativas. A tecnologia o fascinava. Começou a construir pipas e pequenos aeroplanos movidos por uma hélice acionada por molas de borracha torcida.

O primeiro balão

Aos 19 anos seu pai o emancipou aconselhando o jovem Alberto a focar nos estudos da mecânica, química e eletricidade. Com isto Alberto largou a engenharia e ingressou no automobilismo e ciclismo, na França.

Em 1897, já independente e herdeiro de imensa fortuna Santos Dumont partiu para a França, onde contratou aeronautas profissionais que lhe ensinaram a arte da pilotagem dos balões, realizando sua primeira ascensão num balão.

Sabe-se que em 1900 ele já havia criado nove balões, dos quais dois se tornaram famosos: o Brazil e o Amérique. Com o Amérique ele enfrentou de tempestades a acidentes. Em suas primeiras experiências ele foi premiado pelo Aeroclube da França pelo estudo das correntes atmosféricas, atingiu altas altitudes e chegou a ficar no ar por mais de 22 horas.

A visão existente até o fim do século XIX era de que a dirigibilidade dos balões era algo sem solução. A demonstração pública realizada por Santos Dumont, passou a ser algo de suma importância no cético ambiente acadêmico.

• O dirigível número 1: O 1º dirigível projetado por Santos Dumont, o N-1, teve sua primeira tentativa de decolagem em 1898. Condições de neve fizeram com que o diri-gível se dobrasse e caísse.

• O dirigível número 2: Em 1899, Santos Dumont construiu  a N-2. A demonstração feita consistiu em manobras com a aeronave presa por uma corda; não obstante, o teste terminou nas árvores. O balão havia se dobrado sob a ação combinada da contração do hidrogênio e da força do vento.

Foto-Monde et Camera/Acervo Estado de Minas- O inventor Santos Dumont (Alberto Santos Dumont ) ao lado do seu biplano o 14-Bis ( aviao ) em Paris , Franca

• O dirigível número 3: Ainda em 1899 Santos Dumont deu início à construção do N-3. Às 15h30min do dia 13 de novembro, data em que, de acordo com alguns astrólogos,  o mundo acabaria, Santos Dumont, num gesto de desafio, partiu no N-3 do Parque de Aerostação de Vaugirard e contornou a Torre Eiffel pela primeira vez. Do monumento seguiu para o Parque dos Príncipes e de lá para o Campo de Bagatelle. Aterrissou no local exato onde o N-1 havia caído, dessa vez em condições controladas. Com o N-3 bateu o recorde de 23 horas de permanência no ar.

• O dirigível número 4: Em 1900, Henri Deutsch de la Meurthe havia enviado ao Presidente do Aeroclube da França uma carta na qual se comprometia a congratular com 100 mil francos a que inventasse uma máquina voadora eficiente.
O prêmio estimulou Alberto Santos Dumont a tentar com o N-4 voos mais velozes.

• Os dirigíveis números 5 e 6: O N-5 foi construído para tentar ganhar o prêmio Henry Deutsch de la Meurthe.

Mas foi com o balão N-6 que ele finalmente executou a prova em 29 minutos e 30 segundos. Tornou-se reconhecido internacionalmente como o maior aeronauta do mundo e o inventor do dirigível. Dumont distribuiu o prêmio entre sua equipe, desempregados e operários de Paris.

Em 1902, Alberto I, Príncipe de Mônaco, lhe fez o convite irrecusável para que continuasse suas experiências no Principado. Oferecia-lhe um novo hangar na praia de La Condamine, e tudo mais que Alberto julgasse necessário para o seu conforto e segurança, que foi aceito.

No começo do século XX, Santos Dumont era a única pessoa do planeta capaz de voar de forma controlada.

Em Mônaco Dumont orientou a construção de um hangar à beira-mar, com o objetivo de testar como comportava-se no mar. Dumont também comprovou que geralmente a aeronave comportava-se bem sobre a água. Seu sucesso deixou claro o possível uso militar da aeronave, principalmente em caso de guerra submarina.

• Os dirigíveis números 7, 8, 9 e 10: Santos Dumont passou a dedicar-se à construção de novos modelos, cada um com uma finalidade específica. O N-7 projetado para ser um dirigível de corrida. O N-8 tratou-se de uma cópia do N-6 en-comendada por um colecionador estadunidense, chamado Edward Boyce, o primeiro homem a realizar um voo dirigível na América, tendo realizado um único voo em Nova Iorque. O N-9 foi um dirigível de passeio, no qual Santos Dumont fez o primeiro voo noturno de um dirigível. O N-9 fez parte de uma parada militar em comemoração aos 114 anos da Queda de Bastilha. A primeira mulher a pilotar uma aeronave foi Aída de Acosta conduzindo o N-9. O N-10 foi um dirigível ônibus, grande o bastante para levar várias pessoas e servir para o transporte coletivo.O N-11, foi um monoplano não tripulado. O Nº12 foi um helicóptero nunca concluído devido à limitação tecnológica da época e um motor apropriado. E finalmente, o N-13, um luxuoso balão duplo de ar quente e hidrogênio.

• O helicóptero número 12 em construção: Ao assistir testes feitos pelos irmãos Dufaux e Gabriel Voisin, Dumont percebeu que o motor Antoinette utilizado no barco poderia ser usado num avião, dando origem ao conceito do 14-bis.

• 14-bis ou Oiseau de Proie: Construiu então uma máquina híbrida, o 14-bis, consolidando seus estudos sobre o que havia sido feito na aviação até então. Dumont inscreveu-se para disputar as provas mas foi imediatamente desestimulado pelo capitão Ferdinand Ferber, outro entusiasta da aviação mas considerava o híbrido uma máquina impura. “A aviação deve ser resolvida pela aviação!”, declarou.
Santos Dumont resolveu ouvir as críticas do colega.

• Oiseau de Proie I: O avião tinha 4 metros de altura, 10 de comprimento, com superfície alar de 50 metros quadrados. As asas ficavam fixas a uma viga, na frente jazia o leme. Na extremidade posterior ficava a hélice, movida por um motor Levavasseur de 24 cavalos. O trem de pouso possuía duas rodas. O aeronauta ia em pé.

1780662 Alberto Santos Dumont (1873-1932) at the controls of his plane 14bis. He sets a record in 1906 with it; (add.info.: Alberto Santos Dumont (1873-1932) at the controls of his plane 14bis. He sets a record in 1906 with it); © René Dazy. All rights reserved 2022.

• Oiseau de Proie II: Numa modificação do modelo original, o avião havia sido envernizado para reduzir a porosidade do tecido e aumentar a sustentação. A roda traseira fora suprimida.  A prova havia sido cumprida. Mais do dobro da distância predeterminada fora coberta. O avião tripulado havia se elevado no espaço. O voo havia se dado unicamente pelos próprios meios do aparelho. Nestas condições, o primeiro voo pela definição concreta de um avião havia se concretizado. A multidão comemorou em entusiasmo e os juízes também haviam sido tomados de emoção e, surpresos, esqueceram-se de cronometrar e acompanhar o voo, e devido à falha o recorde não foi homologado.

• Oiseau de Proie III: Santos Dumont inseriu entre as asas duas superfícies octogonais com as quais esperava obter melhor controle da direçãoI. Dumont foi pioneiro ao implementar os ailerons em sua aeronave. Fez cinco voos públicos nesse dia quando o eixo da roda direita se quebrou. A avaria foi reparada e acabou ganhando o Prêmio do Aeroclube da França. Estes foram os primeiros voos de avião registrados por uma companhia cinematográfica, a Pathé.

• Oiseau de Proie IV: A aeronave voou por 50 metros, entrou em oscilação, caiu, sendo despedaçado e tendo seu projeto abandonado.

• O Demoiselle em voo: Fez ainda o N-15, um biplano, o N-16, misto de dirigível e avião, o N-17 e o N-18, um deslizador aquático. Descontente com os resultados dos números 15 a 18, fez uma nova série, de tamanho menor e mais aprimoradas, como os Demoiselle, que era capaz de chegar até 90 quilômetros por hora.
Em 1909 apresentou o Demoiselle Nº20, aperfeiçoado e considerado “o primeiro ultraleve da história”. Com o objetivo não comercial do inventor, esse avião consolidou o papel de Dumont no nascimento da aviação no século XX. Devido ao baixo custo e alta segurança da aeronave, ela foi utilizada para treino de pilotos durante a 1ª Guerra.

A aeronave encontra-se em exposição permanente no Museu Aeroespacial de Le Bourget.

Últimos anos de vida

Santos Dumont começou a sofrer de esclerose múltiplae sentia-se cansado demais para continuar competindo com novos inventores nas diversas provas. Porém, em 1909, ele participou da Grande Semana da Aviação em Reims, onde realizou seus últimos voos. Após sofrer um acidenteb ele encerrou as atividades de sua oficina e retirou-se do convívio social. Entretanto, Dumont continuou trabalhando na popularização da aviação.

Em agosto de 1914, a França foi invadida pelas tropas  do Império Alemão. Era o início da I Guerra Mundial, com isso, ofereceu seus serviços ao Ministério da Guerra Francês. Aeroplanos começaram a ser usados na guerra, primeiro para observação de tropas inimigas e, depois, em combates aéreos. Os combates aéreos ficavam mais violentos, com o uso de metralhadoras e disparo de bombas. Santos Dumont viu, de uma hora para a outra, seu sonho se transformar em pesadelo. Daí começava sua guerra de nervos.

Já com a depressão que ia acompanhá-lo nos seus últimos dias, encontrou refúgio em Petrópolis, onde projetou e construiu o seu chalé “A Encantada”: uma casa com diversas criações próprias, como uma mesa de refeições de grande altura, um chuveiro de água quente e uma escada diferente, onde só se pode pisar primeiro com o pé direito e que cada degrau não ocupa toda extensão, evitando assim que o calcanhar seja machucado. A casa atualmente funciona como um museu. Morou lá até 1922, quando foi a França. Não estabeleceu mais um local fixo. Permanecia algum tempo em Paris, São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis e em sua cidade natal.

Em 1920, mandou erguer um túmulo para seus pais e para si mesmo, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Entre as sepulturas de seus pais, Dumont pessoalmente encarregou-se de cavar a própria.

Em 1925, com o objetivo de cuidar de sua saúde, Santos tenta se tratar com águas termais “que têm bastante rádio”, mas não foi bem-sucedido. Muma carta, Santos descreve-se como estando “extremamente magro, como um esqueleto”. Em uma outra carta Santos reclama de ruídos no ouvido. Em julho, foi internado na Suíça.

Em janeiro de 1926, apelou à Liga das Nações, através de seu amigo e embaixador Afrânio de Melo Franco, para que se impedisse a utilização de aviões como armas de guerra. Chegou a oferecer dez mil francos para quem escrevesse a melhor obra contra a utilização militar de aviões. Dumont foi o primeiro aeronauta a falar contra o uso bélico do avião.

Passou algum tempo em convalescença na Suíça. O pesquisador Henrique Lins de Barros descreve que “por volta de 1925, entra gradualmente num estado de depressão quase permanente.” Em dezembro de 1928 ele retornou ao Brasil de navio. A cidade do Rio de Janeiro ia recebê-lo festivamente. O hidroavião que ia fazer a recepção, levando vários professores da Escola Politécnica, que fora batizado com seu nome, sofreu um acidente, sem sobreviventes, ao sobrevoar o navio onde Santos Dumont estava. Após este evento, ele se trancou no Copacabana Palace e somente saiu para participar dos funerais.

Em outubro de 1930, na França, Santos Dumont foi internado, e no ano seguinte, escreveu seu primeiro testamento. Em 1931 esteve internado em casas de saúde no sul da França, onde tentou suicidar-se com sobredose de medicação. Antônio Prado Júnior, ex-prefeito do Rio de Janeiro entrou em contato com sua família e a pediu ao seu sobrinho Jorge Dumont Vilares, que fosse buscá-lo na França. Antes de voltar ao Brasil Santos Dumont já havia tentado suicídio na Europa, sendo impedido por seu sobrinho. De volta ao Brasil, passou por Araxá, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e finalmente instalou-se no Grand Hôtel La Plage, no Guarujá.

Em 1932 ocorreu a revolução constitucio-nalista e n mesmo ano Santos Dumont escreveu uma carta em favor da “…ordem constitucional no país…” para o governador Pedro de Toledo, porém, ao conversar com o amigo José de Oliveira Orlandi por telefone, Dumont disse: “Meu Deus! Meu Deus! Não haverá meio de evitar derramamento de sangue de irmãos? Por que fiz eu esta invenção que, em vez de concorrer para o amor entre os homens, se transforma numa arma maldita de guerra? Horrorizam-me estes aeroplanos que estão constantemente pairando sobre Santos”.

Apesar disso o conflito aconteceu e aviões atacaram o Campo de Marte, em São Paulo. Possivelmente, sobrevoaram o Guarujá e ter causado uma angústia profunda em Santos Dumont que, nesse dia suicidou-se, aos 59 anos.

Dumont não deixou descendência ou no-ta de suicídio. O médico Walther Haberfield removeu secretamente o coração do Pai da aviação durante o processo de embalsamento, e o preservou em formol, mantendo segredo sobre isso. Após doze anos, quis devolvê-lo à família Dumont, que não aceitou. O médico, então, doou o coração do inventor ao governo brasileiro, após pedido da Panair do Brasil. Hoje o coração está exposto no museu da Força Aérea, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, dentro de uma esfera carregada por Ícaro, projetada por Paulo da Rocha Gomide.

Legado e homenagens

Ao longo de carreira, a imagem de Santos-Dumont estampou produtos, seu chapéu panamá e colarinho foram replicados, seus balões foram transformados em brinquedos e con-eiteiros faziam bolos em forma de charutos.

Em reconhecimento às suas conquistas,  o Aeroclube da França o homenageou com   a construção de dois monumentos: o primeiro, em 1910, erguido no Campo de Bagatelle, onde realizara o voo com o Oiseau de Proie, e o segundo, em 1913, em Saint-Cloud.

Em 31 de julho de 1932 por decreto estadual n° 10.447 mudou o nome da cidade de Palmira, em Minas Gerais, para Santos Dumont. A Lei n° 218, de 4 de julho de 1936, declara 23 de outubro o dia do aviador, em homenagem ao primeiro voo da história, realizado nesta data, em 1906. Em 16 de outubro de 1936, o primeiro aeroporto do Rio de Janeiro, Aeroporto do Rio de Janeiro-Santos Dumont, foi batizado com seu nome.

A Lei Nº 165, de 5 de dezembro de 1947, concedeu-lhe o posto honorífico de tenente-brigadeiro. A casa natal de Santos Dumont, em Cabangu, Minas Gerais, foi transformada no Museu de Cabangu. A Lei 3 636, de 22  de setembro de 1959, concedeu-lhe o posto honorífico de marechal-do-ar.

Em 1976, a União Astronômica Internacional prestou homenagem ao inventor brasileiro, colocando seu nome em uma cratera lunar (27,7°N 4,8°E). É o único brasileiro e sul-americano detentor desta distinção. Em 4 de novembro de 1984, concedeu-lhe o título de Patrono da Aeronáutica Brasileira e em 18 de outubro de 2005, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos) assinaram um acordo para a realização da Missão Centenário, que levou o astronauta brasileiro Marcos César Pontes à Estação Espacial Internacional.  A missão é uma homenagem ao centenário do voo de Santos Dumont no 14 Bis. Em 2007, o então presidente o adicionou a título póstumo nas fileiras do grau de Grã-Cruz da Ordem de  Rio Branco. Em 2006 seu nome foi incluído no Livro de Aço dos Heróis Nacionais localizado no Panteão da Pátria, em Brasília, garantindo-lhe assim o status de Herói Nacional.

 

Deixe um comentário

The Brasilians