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Hoje vistas como símbolo de maldade e representadas por imagens assustadoras, essas mulheres já foram consideradas guardiãs da vida e da morte, com papel essencial nas comunidades camponesas europeias da Idade Média.

Bruxa. Que imagem vem à sua mente quando você lê essa palavra?

Não é raro imaginarmos a bruxa como uma mulher mais velha, dotada de um grande e enverrugado nariz, trajando roupas surradas e chapéu pontudo, ao lado de seu gato preto, tidos como espíritos guardiões da Arte das Bruxas, e seu caldeirão e, inevitavelmente, ligada à maldade. É também muito popularizada a imagem da bruxa como a de uma mulher sentada sobre uma vassoura voadora, principalmente em noites de lua cheia, que faziam feitiços e transformavam as pessoas em animais e que eram más. Alguns autores utilizam o termo para designar as mulheres sábias detentoras de conhecimentos sobre a natureza e, possivelmente, magia.

Mas, afinal, de onde vem essa peculiar figura? Será que toda bruxa se assemelha à que você pensou? Talvez você se surpreenda em saber que as bruxas existiram, sim, no mundo real. Mas elas não eram exatamente como descrevemos.

Algumas bruxas adquiriram alguma notoriedade, como é o caso das chamadas Bruxas de Salém, a Bruxa de Evóra e Dame Alice Kytler (bruxa inglesa). São também bastante populares na literatura de ficção, como nos livros da popular série Harry Potter, nos livros de Marion Zimmer Bradley (autora de As Brumas de Avalon, que versam sobre uma vasta comunidade de bruxos e bruxas cuja maioria prefere evitar a magia negra) ou a trilogia sobre as bruxas Mayfair, de Anne Rice.

Hoje em dia essas antigas superstições já foram suavizadas, devido à maior tolerância entre religiões, sincretismo religioso e divulgação do paganismo. Gerald Gardner, o pai da Religião Wicca, a religião da moderna bruxaria pagã, formada por pessoas que são bruxos/as mas que utilizam a “Arte dos Sábios” ou a “Antiga Religião” mesclada a práticas e conhecimentos de outras tradições. A classificação de magia como negra e branca não existe para os bruxos, pois se fundamentam nos conceitos de bem e mal, que não fazem parte de suas crenças, por isso, como costumam dizer, toda magia é cinza. A Arte das Bruxas, como era praticada antigamente, é cha-mada de ‘bruxaria tradicional, remanescendo até os dias atuais em grupos seletos, geralmente ocultos.

O estudioso de mitologia e religião norte-americano Joseph Campbell (1904-1987) explica que, desde as épocas mais remotas da história, a mulher é vista como força mágica e misteriosa da natureza, e esse poder feminino acabou despertando uma das maiores preocupações do ser masculino: como quebrá-lo, controlá-lo e usá-lo para seus próprios fins.

Etimologia

Acredita-se venha do italiano brucia (queima), do verbo bruciare (queimar), ou de brixtia, que vem do nome da deusa gaulesa Bricta. Há também uma possível relação com alguns vocábulos proto-celtas, como brixtom e brixtu – ambos com significados associados a magia ou feitiço. Na língua céltico-francesa antiga, no caso do Tablete de Larzac, os adeptos usavam o termo brixtia para “bruxaria”.

História

Para os intelectuais, estes acontecimentos não passavam do imaginário popular, sonhos, pesadelos e, assim, recusavam-se a admitir a existência de bruxas. Porém, entre muitos povos não era assim: os éditos dos francos salianos falavam da Estrige como se ela existisse de fato. Os penitenciais atestavam a crença nessas mulheres luxuriosas. No início do século XI, Burcardo, o bispo de Worms, pedia aos padres que fizessem perguntas às penitentes no intuito de descobrir se eram seguidoras de Satã, e se tinham o poder de matar com armas invisíveis cristãos batizados.

Até ao século XIII a Igreja não condenava severamente esse tipo de crendice. Mas nos século XIV e XV, o conceito de práticas mágicas, heresias e bruxarias se confundiam no julgo popular graças à ignorância. Eram, em geral, mulheres as acusadas. Hereges, cátaros e templários foram violentamente condenados pela Inquisição, tomando a vez aos judeus e muçulmanos, que eram os principais alvos da primeira inquisição (século XIII). Curiosamente, foi exatamente a partir da primeira inquisição que a iconografia cristã passou a representar o “Arcanjo Decaído” não mais como um arcanjo, mas com a aparência de deuses pagãos, como Pã e Cernunnos. Tal fato levaria, séculos depois, à suposição de que bruxas eram adoradoras do Demônio. Na Bíblia, relata-se que o Diabo pode possuir diversas formas, portanto, relacionavam-no aos deuses delas.

O movimento de repressão à bruxaria, iniciado na Idade Média, alcançou maior intensidade no século XV para, na segunda metade do século XVII, ter diminuída sua chama.

Em 1233 o Papa Gregório IX admitiu a existência do sabbat e esbat. O Papa João XXII, em 1326, autorizou a perseguição às bruxas sob o disfarce de heresia. O Concílio de Basileia (1431-1449) apelava à supressão de todos os males que pareciam arruinar a Igreja.

Uma psicose se instalou. Comunidades do centro-oeste da França acusavam seus membros de feitiçarias. Na Aquitânia (1453) uma epidemia provocou muitas mortes que foram imputadas às mulheres da região, de preferência as muito magras e feias. Presas, submetidas a interrogatórios e torturadas, algumas acabavam por confessar seus crimes contra as crianças, e condenadas à fogueira pelo conselheiro municipal. As que não confessavam eram, muitas vezes, linchadas e queimadas pela multidão, irritada com a falta de condenação. Em 1484 o Papa Inocêncio VIII promulgou a bula Summis desiderantes affectibus, confirmando a existência da bruxaria.

Em 1484 a publicação do Malleus maleficarum (“Martelo das Bruxas”) orientou a caça às bruxas com ainda maior violência que obras anteriores, associando heresia e magia à feitiçaria.

A Inquisição, instituída para combater a heresia, agravou a turba de seguidores inspirados por Satã. Havia, ainda, um componente sexista. Os bruxos existiam, mas eram as mulheres, sobretudo, que eram queimadas nas fogueiras medievais.

Feitiçaria

A feitiçaria já era citada desde os primeiros séculos de nossa era. Autores como o filósofo grego Lúcio Apuleio (123-170) fazia alusão a uma criatura que se apresentava em forma de coruja (Hécate). É justamente daí que vem a imagem da bruxa como uma idosa, tendo o caldeirão onde se misturavam os ingredientes dos seus preparados. Nas suas comunidades, elas não eram vistas como más ou perversas por natureza; eram chamadas de ‘mulheres sábias’. Seja como for, entre as populações campesinas da Europa, elas eram as médicas, as conselheiras, as guardiãs da vida e da morte.

As bruxas na cultura

Se, depois do século 18, a Inquisição já havia acabado, a imagem da bruxa construída nesse período permaneceu. No entanto, como resposta a mudanças de contexto, representações alternativas para as bruxas foram surgindo.

Conhecemos, por meio do cinema e da televisão, uma variedade enorme de bruxas de feições grotescas e caricatas, ou apenas com características distantes do padrão de beleza que se vê nas princesas, evocando um senso de ‘feiura’. Dentre essas características atribuídas à feiura, podemos citar a velhice e o nariz grande e enverrugado, em bruxas como a da história da Branca de Neve; a pele de cor não branca, como a da Bruxa Má do Oeste, de O mágico de Oz; o excesso de peso, que podemos ver na personagem Úrsula, da Disney, e na Bruxa Onilda, do desenho animado espanhol de mesmo nome.

Atendendo aos anseios de um público masculino que sensualiza as mulheres em qualquer oportunidade, também surgiram muitas representações de bruxas hipersexualizadas, como no clássico filme Elvira. Mas uma característica que parece ser uma constante entre boa parte das bruxas da cultura pop é a perversidade.

Nos últimos anos, algumas histórias vêm transformando bruxas famosas em anti-heroínas, ou seja, personagens que praticam atos moralmente negativos, mas motivadas por boas intenções ou por mero acaso. O livro Wicked: a história não contada das bruxas de Oz, que se tornou um musical premiado da Broadway, nos dá outra versão de O mágico de Oz, pela perspectiva das bruxas (a má e a boa). Vale também citar a bruxa Malévola, da Disney, que ganhou dois filmes e teve a chance de contar sua história e ser mais bem compreendida.

Mesmo assim, a imagem de bruxa perversa ainda é tão forte que, se uma criança vai a uma festa fantasiada de Glinda (a bruxa boa de O mágico de Oz), ela certamente será confundida com uma fada ou princesa.

Apesar da mudança na imagem das bruxas, suas versões coexistem, se relacionam e se retroalimentam. E, ao longo dos anos, as bruxas também mudaram. Essas mulheres que faziam o mundo acontecer desde a aurora da humanidade hoje estão espalhadas por todas as áreas do conhecimento da natureza. Se algo se manteve constante, foi a dificuldade do homem de dividir o protagonismo da história e as tentativas perversas de manutenção artificial de sua ‘superioridade moral, intelectual e biológica’.

Na literatura infantil

Desde o surgimento da literatura infantil, no século XVIII, a bruxa é uma figura marcante nas histórias para crianças. Outros seres encantados e assustadores, como monstros, lobos, dragões, duendes, também sempre estiveram presentes nos contos de tradição oral.

A bruxa constitui uma das mais populares criações do imaginário – símbolo do contato com a natureza, do poder do feminino, e do desejo de transformações. Com uma pitada de bem e de mal, são representadas de chapéu pontudo, verruga no nariz e com poderes misteriosos. São criaturas horrendas, malvadas, que voam numa vassoura e adoram fazer poções mágicas. Esta personagem faz parte da infância de todos os tempos, em diferentes culturas. Nas narrativas mais modernas aparece como seres mais divertidos, atrapalhados e nem tão maus assim.

No Brasil, a representação aparece com a personagem Cuca, de Monteiro Lobato.

Os contos de fadas, em especial, falam em uma linguagem universal e simbólica. Neles encontramos uma riqueza infinita, que dispensa explicações, pois são assimilados e digeridos de acordo com a necessidade da alma infantil.

As histórias dão às crianças um repertório que contribui para a leitura de mundo. De acordo com psicólogos, psiquiatras, pedagogos e demais especialistas, na figura da bruxa, os pequenos encontram uma maneira de lidar e enfrentar seus medos.

Dia das Bruxas

O Dia das Bruxas (ou Halloween) é dia 31 de outu-bro. A sua tradição é bastante forte em países como Estados Unidos, Irlanda e Canadá, onde as crianças fantasiadas de forma assustadora batem de porta em porta a fim de ganhar doces.

Há símbolos do Dia das Bruxas que estão sempre presentes, porque remetem ao sombrio: abóboras com recortes, bruxas, vampiros, morcegos, aranhas, fantasmas, caveiras, gatos pretos, velas, zumbis, e as cores laranja, preto e roxo.

As abóboras com velas acesas servem para iluminar o caminho dos mortos. O seu uso surge da modificação de uma lenda irlandesa, a lenda de Jack O’ Lantern, alma de um homem que não foi aceito nem no céu, nem no inferno e que, assim, andava a vaguear na terra, iluminando as noites com um nabo.

Dia do Saci

Em 2003, o Projeto de Lei Federal n.º 2.762 institui a comemoração do Dia do Saci no dia 31 de outubro. Isso porque a introdução da Festa do Halloween no Brasil recebeu muitas críticas, sobretudo da Igreja Católica que acusou a celebração de pagã e pouco educativa.

Diante disso, foi introduzido o Dia do Saci com o intuito de afastar a tradição da festa das bruxas e no lugar celebrar o folclore do Brasil.

O saci, um menino travesso de uma perna, é uma das figuras mais emblemáticas do folclore brasileiro.

Nesse dia, muitas instituições educacionais propõem atividades relacionadas com essa figura folclórica.

A ideia é divulgar a história do folclore brasileiro, já que muitos não conhecem as lendas que envolvem o imaginário do nosso país.

Apesar da iniciativa, o Dia do Saci ainda não é muito comemorado pelos brasileiros.

Desde a oficialização da data no Brasil, as escolas costumam realizar eventos relacionados com a figura do Saci.

Dentre as propostas de atividades, sugerimos:

• Confecção de boneco do Saci;

• Confecção de gorros vermelhos;

• Leitura de lendas;

• Apresentações teatrais;

• Jogos: caça ao Saci, criar crinas de cavalo com lã e montar um circuito com elas a fim de ver quem é o mais rápido a dar nó nelas;

• Cantar músicas.

Fontes: cienciahoje.org.br, wikipedia, educamaisbrasil.com.br

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